– Vais morrer, negrinho!
– Não te fiz nada. TO pagando o cigarro, não tô?
– Com o dinheiro que me roubaste ontem, malandro! Pensas que n~o sei?
– Não fui eu.
– Vais dizer gue foi a minha mãe, então? A hora que tu sal pra ver o incêndlo na casa da dona Rosane, estavas na esquina, não estavas?
– Mas não roubei nada.
– Já é a segunda vez que me aprontas, moleque! Vou mandar te dar um jeito, pode deixar … Pois não, dona Maria? … – e o comerciante passa a atender uma freguesa.
Paulo Roberto pega o troco com as mãos tremulas. Um dos empregados da padaria olha e sorri, camuflando os dentes. O garoto abaixa os olhos e sai. Sente um frio por dentro, apesar do verão de 41 graus. Também o olhar do homem atrás da máquina registradora foi profundamente sinistro. Não era O seu Manoel de todo dia. Inquieto, o garoto vai pelos cantos da rua, na tenta tiva de encontrar o abraço de alguma sombra.
Mas, ao meio-dia, é demasiada a magreza das sombras.
" Filhos de rato! Fodo-os! Só servem pra pedir. Ou então roubar. Fodo-os! Vão roubar o diabo se quiserem." -Com estes pensamentos, seu Manoel fecha o estabelecimento bem mais cedo, desculpando-se dos que demoram no aperitivo. Precisa tratar de negócios.
– Aonde 'cê vai, Paulinho? – pergunta a pequena.
– Quando a máe chegar, faJa pra ela que eu fui ver um serviço lá na cidade. Só volto amanhã.
– Mas, eu vou ficar sozinha de novo?
– Daqui a pouco o Léochega da escola. Fica brincando ai. U em cima da mesa tem pão e manteiga. Olha, esse chiclete eu comprei pra você. Mas não é pra sair, tá bom?
Entendeu, Telminha?Quandoa mãe chegar, vacê fala assim que eu deixei um negócio na mala, tá? Não esquece.
– Ah, mas eu vou ficar sozinha? . . -choraminga a irmã, tentando, Com a força de seus quatro anos, convencer Paulo Roberto a não abandoná.la.
– Eu trago um presente pra você
– Você nem tem dinheiro.
Reprinted by permission of the author
Callaloo 18.4 (1995) 890-892