Zenaide Zen – Olorun Kosi pu re. Que Olorun mantenha seu espírito em paz

FONTEDa Revista Raça
(Foto: Reprodução/ Youtube canal Cultne)

É com grande tristeza que recebemos a notícia do falecimento da atriz, artista plástica, cantora, membro do movimento negro,escritora e poeta Zenaide Zen, no último sábado, em consequência de um AVC.

Zenaide foi uma grande colaboradora e deu suor e sangue na luta pelos direitos civis das populações de matrizes africanas e na inserção do artista negro nos meios de comunicação. Uma perda gigantesca para o Brasil e para as próxima gerações que não conheceram a articulação dessa grande ativista.

Saravá e Axé Zenaide Zen.

ATÉ UM DIA, ZENAIDE!

Quem, como eu, teve a felicidade de assistir, em 1978, ao espetáculo Macunaíma, montado pela Companhia Paulista de Teatro (CPT), sob direção de Antunes filhos, certamente se lembrará da belíssima atriz negra que numa cena atravessava o palco de ponta a ponta, lentamente, careca, como o corpo nu reluzindo e chorando o tempo todo. Ela representava uma cachoeira naquela concepção teatral vanguardista para o livro de Mário de Andrade.

Zenaide Silva – mais tarde também conhecida por Zenaide Zen – era o nome da atriz e poeta, que um AVC acaba de arrebatar da vida cultural afro-brasileira. Nós, paulistanos, a conhecemos através do grupo campineiro Evolução, do qual faziam parte, entre outros, os músicos TC e Lumumba. Não me lembro se ela integrava o grupo ou apenas era amiga deles. Mas na minha memória ficaram tatuados sua beleza, sua voz num tom metálico e seu talento.

Destacou-se como bailarina, dançando com Ismael Ivo, hoje diretor do Festival Internacional de Dança Contemporânea da Bienal de Veneza, e com a coreógrafa Marilena Ansaldi. Estudou artes cênicas em uma universidade nos EUA, de onde trouxe a teoria da afrocentricidade, que sonhava disseminar através da lei 10.639/03.

Numa entrevista ao programa Provocações, da TV Cultura (disponível no Youtube), conta que estava fazendo teatro em comunidades e recomenda a leitura de Stolen Legacy, livro em que George G.M. James demonstra como os gregos roubaram os conhecimentos dos egípcios e os passaram ao mundo como sendo deles. Para ela, “o Brasil é uma África que pode dar certo. Somos o verdadeiro arco-íris cósmico e encerra propondo: “Vamos criar o belo a partir deste caos.”

Perguntada por Antonio Abujamra sobre a morte, Zenaide conta: “Minha avó chamou minha mãe e disse ‘ai, minha filha, estou muito cansada, quero me deitar e não acordar mais.’ E morreu assim. Eu queria morrer igual. Quem sabe, num banho de cachoeira ou no palco.” Dizendo não se assustar com a morte, queria apenas cumprir a missão de divulgar a afrocentricidade. Não teve tempo.

 

 

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