Manifesto contra a cultura do estupro no Rio de Janeiro

Diante da divulgação das denúncias de estupro contra o pastor Marcos Pereira da Silva e indignadas contra o uso do espaço democrático da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para defendê-lo, nos manifestamos em repúdio aos deputados estaduais Paulo Ramos, Gilberto Palmares, Geraldo Pudim, Samuel Malafaia, Marcelo Simão, Marcos Abrahão, Armando José, que, em sessão da tribuna, difamaram a juíza e os policiais legitimamente encarregados do caso, e insinuaram que as mais de 30 testemunhas e as vítimas estão mentindo e compondo um complô midiático contra o pastor.

De acordo com informações da 8ª Promotoria de Investigação Penal, o acusado é um “estuprador em série”, abusando de seu poder enquanto líder religioso de mulheres pobres que moravam nos alojamentos de sua igreja e dependiam economicamente dela. A violência sexual acontecia em supostas cerimônias espirituais e fora testemunhada por diversas pessoas. Uma das vítimas conta, inclusive, que sofrera os abusos dos 14 aos 22 anos de idade.

Sabemos que a violência sexual ocorre mais em situações de dependência econômica e em relações de confiança, quando mulheres dependentes e crianças estão submetidas à ameaças psicológicas e físicas. Em mais de 80% dos casos, as vítimas são mulheres ou meninas, mais de 50% tem até 14 anos de idade, e mais de 50% conhecem seus agressores. Mas, esse tipo de violência atinge pessoas de todas as classes sociais, grupos e regiões brasileiras. Apesar da dificuldade em se mensurar rigorosamente os dados de incidência de estupros, as estatísticas tem mostrado aumento das denúncias desse crime na cidade do Rio de Janeiro.

Portanto, manifestamos o apoio às vítimas e testemunhas que estão à disposição da justiça, e conseguiram vencer os desafios emocionais, sociais e culturais em se falar da violência sofrida e/ou presenciada. Essas pessoas tem contribuído para a denúncia e superação dessa cultura do estupro que ainda perdura no Brasil, em especial nessa cidade.

Manifestamos apoio à toda equipe da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário que tem se empenhado em desvendar o modus operandi dos acusados, e operacionalizar, de fato, a justiça, devolvendo às vítimas pelo menos uma compensação moral e política, e incentivando aos cidadãos que sofreram ou testemunharam esse tipo de violência a não se calarem mais.

Acabar com a cultura do estupro depende de tod@s!

* A gravação da sessão da Assembleia Legislativa, na qual os deputados defenderam o pastor pode ser vista no vídeo:

 

* Você pode saber mais sobre o caso nessa reportagem: Pastor não pode ser denunciado por 3 das 6 acusações de estupro, diz MP.

* Dados sobre a incidência de estupros no Rio de Janeiro:

 

Texto de Carolina Pombo.

 

 Leia Também: 

A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve

Fonte: Blogueiras Feministas 

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