A atriz, o delegado e as bicicletas – Por: Mônica Francisco

As empreiteiras, a Justiça e a impunidade

Esta semana, ainda sob o impacto da ação dos mais novos heróis da resistência, leia-se garis, não posso me distanciar do tema determinante de tudo isso, o racismo institucional e o racismo propriamente dito.

É fato que como disse aqui em alguns artigos anteriores, começamos uma nova era pós rolézinhos, onde de forma acidental nossa sociedade teve exposta sua mais grave doença , o racismo.

Ouvir Taís Araújo, entrevistada por seu marido , o ator Lázaro Ramos, dizer que nunca namorou no colégio e no condomínio onde morava, expõe a dureza do que é ser preto no Brasil. E isso cada vez mais fica evidenciado em episódios bizarros e recorrentes Brasil á fora.

O delegado-titular do 3º Distrito Policial, em Campos Elíseos, Arariboia Fusita Tavares, anunciou em entrevista que sua equipe usa os “anos de experiência” para definir os possíveis “suspeitos” à serem abordados. “Não existe matemática nesse caso. Com 28 anos de carreira, eu sei reconhecer quem deve ser parado ou não. E meus policiais também”.

Para identificá-los ele lista características: “estar malvestido”, “com dentição podre”, “cara de presidiário”, “tatuagem de cadeia”, “dedos amarelados de quem fuma muita maconha ou crack”, “o vocabulário” e o fato de “o cara ser desocupado”.

Tudo isso para identificar supostos ladrões de bicicleta.Fazendo-se ainda necessário aos que utilizam a bicicleta andarem com nota fiscal, ou foto que comprove a propriedade do objeto.

Isto demonstra a perversidade e a podridão da sociedade brasileira.mais do que isso, demonstra o medo de encarar-se nação latina e negra.O medo de descobrir-se negro, ou melhor a fobia de aceitar-se como tal , cria mecanismos institucionais de opressão e violência, tão inimagináveis mas reais em nosso cotidiano.

Não estamos falando de um “zé das couves”, estamos falando de um delegado, servidor público, que se utiliza de suas prerrogativas e pré-conceitos e não de um arcabouço institucional legal, embora também questionável, mas de suposições construídas na lógica racista.

À população enquadrada neste perfil, a defasagem habitacional, a escassez de direitos, o controle militar, a abreviatura da vida, impetrada por instituições e indivíduos, como o caso que relatamos aqui acima.

Assistindo novamente durante os festejos de momo o documentário de Silvio Tendler protagonizado por Milton Santos ” Por uma Outra Globalização”, sorri e me arrepiei ao ouvir a profecia do mestre ao falar sobre as massas que de baixo pra cima vão desencadear processos de mudança e de maneira enérgica.O que me conforta é saber que a despeito de toda opressão, o Brasil real está fazendo barulho e a brisa já anda com cara de que vai virar furacão, e melhor ainda, o Brasil real é preto e veste laranja, a nova cor da resistência,se é que vocês me entendem.

Somos todos Garis!

“A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO e à REMOÇÃO!”

*Mônica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e aluna da Licenciatura em Ciências Sociais pela UERJ.

Fonte: Jornal do Brasil

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