Acampamento feminista: um chamado à solidariedade

(Foto: João Godinho)

Por: FÁTIMA OLIVEIRA

 

Está em toda a parte. É cada uma de nós, onde estivermos

Nos cem anos do Dia Internacional da Mulher (1910-2010), apresentamos o Acampamento Internacional Feminista Myriam Merlet, Anne Marie Coriolan e Magalie Marcelin, em solidariedade ao povo e às mulheres do Haiti – uma resposta feminista à tragédia de 12 de janeiro, onde a vida das mulheres já era extremamente difícil e, conforme o Banco Interamericano de Desenvolvimento, um terço delas sofria violência física ou sexual, metade com menos de 18 anos (2006).

A ação foi tecida após viagem de Sergia Galvan, da Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas e do Caribe, a Porto Príncipe, dois dias após o terremoto, que em e-mail nos disse: “Queridas amigas, regressei na madrugada de hoje do Haiti. Tudo o que puder contar é pouco… As pessoas são caminhantes: vão e vêm sem rumo; são deambulantes que carregam dor, miséria e sonhos em ruínas. As pessoas caminham, caminham, caminham… É como se o caminhar as liberasse da tragédia” (15.01.2010).

Feministas dominicanas idealizaram o formato da solidariedade, coordenada por representantes do Brasil (Rede Feminista de Saúde), Estados Unidos, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Porto Rico e República Dominicana. Instalado na cidade dominicana de Jimani, na fronteira do Haiti com a República Dominicana, o acampamento visa a fornecer assistência econômica; de saúde sexual e reprodutiva; e psicológica (atenção a traumas pós-desastre); realizar ações que promovam a participação e a liderança das mulheres na reconstrução do país; e prover necessidades mais prementes, como tendas e alimentação.

María Suárez Toro, no artigo “Dónde existe el Campamento Feminista y qué está haciendo?”, responde: “O acampamento feminista é um lugar e uma estratégia: cada uma de nós, no que fazemos e de onde fazemos, é uma semente do acampamento” e “na medida em que a estratégia de solidariedade internacional se expande, o acampamento está em toda parte”. Ou seja, o AIF é cada uma de nós, onde estivermos. Para apoiar a cidadania das haitianas, deposite qualquer quantia na conta nacional: Banco do Brasil 001, agência nº 0.646-7 Ana Rosa, conta corrente nº 29928-6, favorecido: Centro Apoio Mulher Haiti, CNPJ nº 62579164/0001-72.

 

As prioridades políticas do acampamento são: “Advogar, incidir e monitorar para que as necessidades específicas das mulheres e das meninas sejam incorporadas nas agendas multilaterais e bilaterais de ajuda; apoiar os esforços das haitianas na refundação do seu Estado, governo e sociedade civil, reconhecendo a experiência feminista na região em outras catástrofes da natureza; aportar desenhos de políticas públicas que incluam necessidades decorrentes do terremoto natural e social, como sequelas físicas, traumas emocionais, violência de gênero, saúde sexual e saúde reprodutiva; e apoiar a recuperação da memória do movimento feminista e de mulheres do Haiti”.

Para feministas nicaraguenses, que vivenciaram um terremoto com grande rastro de destruição, “qualquer estratégia de solidariedade para a reconstrução pós-terremoto deve estar baseada em uma perspectiva que reconheça as capacidades endógenas da gente desse país para recuperar-se e empreender o caminho de sua recuperação integral, com dois eixos centrais: luta contra o sexismo e o racismo e a busca de recursos materiais, psicoemocionais e organizativos que lhes permitam protagonizar as tarefas de reconstrução de suas vidas e de sua sociedade”.

Fonte: O Tempo

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