Uma sensação crescente de indignação sobre o significado de ser mulher num país como o nosso tomou conta de mim ao longo de março.
No chamado “mês da mulher”, ao menos 5.580 de nós foram estupradas no Brasil – levando em consideração a média nacional de um crime a cada oito minutos, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública referentes a 2023.
Estima-se que outras 124 mulheres (negras, na maioria) foram vítimas de feminicídio, crime de homicídio praticado em razão do gênero feminino e em decorrência da violência doméstica e familiar ou do mero menosprezo à condição da mulher – dados do Ministério da Justiça e da Segurança. Mas o Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), elaborado à base de notícias digitais veiculadas na internet, indica situação pior.
Ainda assim, perdi as contas do número de vezes que ouvi dizer “isso é coisa de mulherzinha” nos últimos 30 dias. Falas representam crenças que orientam como as pessoas se comportam. E “coisa de mulherzinha” é expressão carregada de estigmas e costuma ser proferida como ofensa, sinal de fraqueza.
Os valores que reproduzimos refletem uma sociedade machista e patriarcal, na qual homens estão no controle. Isso implica múltiplas formas de violência contra as mulheres. “Eles” são maioria entre as autoridades máximas em cargos de decisão, têm o “poder da caneta”, e não se constrangem em colocar obstáculos no caminho “Delas”.
Sob a falsa alegação de que gênero é questão “irrelevante”, por exemplo, “Eles” travam a carreira “Delas”. “A humanidade é masculina, e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a Ele; ela não é considerada um ser autônomo”, resumiu a filósofa Simone de Beauvoir.
Por esses dias, soube que “coisa de mulherzinha” segue sendo o pior insulto que um menino pode sofrer quando está nas séries iniciais do ensino fundamental. Me pergunto até quando o feminino será sinônimo de ofensa e gênero de risco no país.