Alunos de direito que estrearam a política de cotas na UnB, em 2004, fazem balanço positivo

Passados cinco anos desde a criação do sistema de cotas da Universidade de Brasília (UnB), a instituição formou, no fim do ano passado, a primeira turma de direito com alunos cotistas. O balanço — discursam alunos e professores — foi positivo. Todos destacam o sistema como uma maneira de acabar com o racismo no país. Ou, pelo menos, dar início ao processo.

A estudante Mariana Oliveira, 25 anos, que se formou nessa turma e entrou como cotista, enumera as vantagens do sistema. Ela explica que ainda é visível a não existência de negros em posições privilegiadas na sociedade, e que essa situação pode ser mudada a partir de políticas sociais. Faz questão de ressaltar que no período da universidade não sofreu nenhum tipo de preconceito e rejeição por parte dos outros alunos da turma e professores, mas ainda é preciso que haja uma melhora na educação do país, a fim de incluir todos os negros e pobres na universidade. “Se a educação já fosse capaz disso, não precisaríamos das cotas. No momento ela só vai servir como um remédio até que a situação se resolva. Todo mundo foca como se essa fosse a melhor solução, mas não é. É um remédio para uma doença que vem lá de trás e precisa ser prevenida e curada”, compara.

Só que apesar dos elogios, Mariana lamenta a forma como é feita a seleção dos alunos negros. “Deveria ser mais rigorosa para cumprir o principal objetivo. Quando eu entrei e fui descobrindo quem eram os outros cotistas, e vi que tinham alunos brancos participando, fiquei impressionada com a falta de rigidez.”

O estudante Ronald Barbosa, 25 anos, que também foi aceito no sistema de cotas, mas acabou nem sequer precisando da vaga, pois sua nota no vestibular foi maior que a universal, concorda com a colega. Segundo ele, a turma de direito sempre foi muito unida e nunca houve nenhuma diferenciação entre os estudantes. “Todos sempre foram a favor da pluralidade e sempre classificaram a ação afirmativa de forma positiva”, lembrou.

Ele conta ainda que no segundo semestre de faculdade os professores realizaram com os estudantes uma espécie de júri sobre as cotas e todos os participantes foram favoráveis. “O sistema de cotas era um tema que sempre estava em debate nas nossas aulas. Além disso, é importante destacar que não havia diferença de rendimentos entre os alunos cotistas e os não cotistas”, completou.

Ronald lembrou de uma pesquisa divulgada pela UnB, em 2008, que afirma que os alunos que entram pelo sistema de cotas para negros tendem a valorizar mais a vaga na universidade. O estudo Efeitos da política de cotas da UnB: uma análise do rendimento e da evasão, coordenado pela pesquisadora da instituição Claudete Batista Cardoso mostra que os cotistas obtiveram notas melhores em 27 cursos. No curso de física, as notas são 12% superiores às dos demais; em matemática, 15%; em música, 19%; em ciências da computação, 13% e em artes cênicas e plásticas, 14%.

Para o professor do curso de direito da UnB Cristiano Paixão, essa formatura é um grande avanço. “É preciso ter oportunidades iguais para todos. Mas não é isso que encontramos hoje. Há uma desigualdade enorme em relação ao número de negros que entram no ensino e se formam. E, claro, que as cotas não resolvem o problema, mas já ajudam a diminuir.”

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