Antropologia Educacional: novo olhar sobre a prática educativa

Foto: Jupiterimages/Creatas/Getty Images

Diante do atual debate a respeito das transformações sociais e da percepção da crescente ênfase na centralidade da cultura como base para a análise deste momento histórico, a antropologia adquire uma importância fundamental, devido a sua contribuição na discussão sobre a contradição entre a função social da escola na sociedade contemporânea, como formadora para a inserção em um mercado de trabalho marcado pela preocupação com o imediatismo das respostas às demandas provindas de diversos setores e obcecado pelo acúmulo de capital, e a formação dos cidadãos voltada para uma inserção crítica na vida pública, de forma a contribuir com a transformação das desigualdades que habitam esta sociedade democrática.

Por Julvan Moreira de Oliveira, para RIIR

As atuais desigualdades caminham em direção a algo drástico: os seres humanos estão cada vez menos semelhantes, não por conta da riqueza da sua multiplicidade cultural, mas, sim, pela diferença no acesso aos bens e serviços engendrados na modernidade.

Essas questões se ampliam quando se focaliza a formação de nossas crianças, adolescentes e jovens. Sendo a escola um espaço de longa jornada de convivência, que busca melhor compreender a realidade, formar para o presente e o futuro, questiona-se qual contribuição vem auferindo para a caminhada histórica da humanidade.

Os diversos grupos culturais que até recentemente se encontravam alheados da escola ou não eram nela reconhecidos, nela adentraram-se. Contribui, sobremaneira, para ressignificar a educação e a escola, o reconhecimento da presença escolar de outros grupos identitários historicamente sem poder, tais como, as mulheres (meninas), as diversas sexualidades e diversidades de gênero, as minorias étnicas (negros e indígenas) e religiosas (as religiões afro-brasileiras), os desfavorecidos economicamente, sem falar nas sub culturas que caracterizam a juventude (o movimento hip-hop, por exemplo).

As diferenças culturais manifestam-se intensamente no interior da escola. Neste contexto, a antropologia tem um papel inquestionável no processo de mudança paradigmática, ganhando importância para os fundamentos da educação, ampliando o campo a ser investigado, notadamente no diálogo entre cultura e educação.

O que objetivamos não é a realização de estudos etnográficos sobre a escola, simplesmente, mas de uma mudança de olhar sobre ela, privilegiando os saberes locais, a diversidade étnico-cultural, as complexidades e as subjetividades do cotidiano social, portanto, trata-se de um novo olhar sobre a prática educativa.

Sendo a cultura este trajeto entre um “núcleo duro” e os diversos polos que borbulham, este circuito dialético entre a repetição/diferença e o desejo/horizonte histórico, as “histórias” (de cada pessoa, de cada escola) não serão as mesmas, tampouco as reações ou entendimentos advindos do seu contexto não serão semelhantes para os diferentes sujeitos.

Mas, nem sempre foi assim, nem sempre foi este o entendimento sobre cultura. Por isso, destaco a importância de se conhecer as principais escolas da antropologia, com seus principais pensadores e as interpretações dadas por eles à questão da diversidade humana, nos aspectos biológico (diferenças genéticas) e social (as organizações de parentesco, as instituições sociais e políticas, os sistemas simbólicos, religiosos e de comportamento), o que nos possibilitará desenvolver uma educação com respeito às diferenças étnicas e culturais e que promova a eliminação das diferenças econômico-sociais e, com isso, possibilitar que nos tornemos, mais, humanos.

16/01/2017

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