Aos 45 anos, Fofão, enfim, parou. E a seleção ganhou um novo reforço

Fofão mal havia acabado de fazer o último ponto de sua carreira, em um emocionante e merecido jogo de despedida, e José Roberto Guimarães já tentava lhe arranjar um novo emprego. O treinador da seleção feminina quer a ex-jogadora a seu lado para passar experiência às novas levantadoras do Brasil. Ele sabe, talvez mais do que qualquer outra pessoa, o quão importante é contar com as mãos e com a cabeça de uma das maiores jogadoras de todos os tempos.

POR MARIANA LAJOLO do Esporte Fino 

Fofão já disse sim. Talvez nem ela mesma seja capaz de ficar tão longe do vôlei. Só conseguiu dizer o adeus definitivo às quadras aos 45 anos, no último fim de semana. Persistência. Lutou contra as limitações do corpo, encarou as novatas cheias de gás e foi reverenciada até o final.

Hélia Rogério de Souza Pinto é uma dessas raras unanimidades no esporte. Muitos podem discutir se ela foi melhor ou não do que Fernanda Venturini, mas ninguém questiona seu talento, seu caráter e sua capacidade de agregar tantas pessoas diferentes em torno dela, como os dois mais vitoriosos técnicos do vôlei brasileiro, que por anos foram desafetos. Zé Roberto é seu padrinho de casamento. Fernanda e Bernardinho também são.

Fofão foi persistente e não esmoreceu até conquistar seu lugar. Foi convocada pela primeira em 1991, época em que Fernanda era titular incontestável. Ficou nessa posição por oito anos até ganhar a vaga e levar a seleção ao bronze em Sydney-2000.

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Em Atenas-2004, perdeu a vaga de novo para Fernanda, que desistira da aposentadoria. Viu um time de jovens talentosas ganhar a pecha de “amarelão” por causa do tropeço contra a Rússia na semifinal.

Decidiu que deixaria a seleção após os Jogos de 2008 e aceitou o convite de Zé Roberto para comandar uma equipe com garotas que nem haviam nascido quando ela já era jogadora de vôlei. Virou capitã. E foi seu estilo quieto, concentrado e delicado que fez o contraponto perfeito à juventude explosiva de suas companheiras.

Pelas mãos de Fofão, o time exorcizou o fantasma de Atenas e conquistou a primeira medalha de ouro do vôlei feminino do Brasil. Em meio às jovens a sua volta, Fofão chorava como uma criança no pódio. A persistência havia dado resultado –a ex-jogadora esteve em cinco semifinais olímpicas seguidas e obteve também duas medalhas de bronze.

No grupo campeão olímpico, além de ser uma atleta excepcional, a levantadora exercia os papéis de amiga, líder e conselheira. A cada fim de jogo, ela e Zé Roberto trocavam impressões sobre o que acontecia. No quarto, ouvia queixas e dava conselho às companheiras.

Fofão nunca deu declarações bombásticas –mal gostava de dar declarações–, era tímida, quieta, passava despercebida. Mas em quadra e nos bastidores, foi fundamental em todos os times pelos quais passou. Principalmente na seleção. Não à toa Zé Roberto lhe quer tão perto de novo.

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