Aos 75 anos, Lia de Itamaracá lança livro de memórias e novo disco

Lia de Itamaracá se apresenta na Virada Sustentável e na FLUP

Por Kamille Viola, do Rio Adentro

Foto: José de Holanda / Facebook Lia

Maria Madalena Correia do Nascimento começou a cantar música quando tinha 12 anos, na beira da Praia de Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá, em Recife. Hoje, aos 75 anos, é o maior símbolo da ciranda, ritmo que ajuda a preservar e a popularizar, trazendo em seu nome artístico a terra onde nasceu e cresceu. Declarada Patrimônio Vivo de Pernambuco, Lia de Itamaracá chega ao Rio hoje para uma programação que começa com a abertura da Virada Sustentável, ao lado do Jongo da Serrinha, encontro que promete ser memorável, em noite que ainda conta com As Bahias e a Cozinha Mineira. “Rio de Janeiro é minha praia. Gosto muito da cidade, adoro. Teve uma época que fiquei no Rio uns dois ou três meses. É uma maravilha”, elogia ela.

O ano de 2019 tem sido bastante movimentado na carreira da artista. Em janeiro, foi lançado o livro de memórias ‘Lia de Itamaracá: 75 anos cirandando com resistência, sorrisos e simplicidade’, feito a partir do da dissertação de mestrado do jornalista pernambucano Marcelo Henrique Andrade. “Ele é filho de Itamaracá, se interessou por fazer esse livro, eu também me interessei em passar a minha história”, conta Lia. “É mais uma realização, para mim está sendo muito importante esse livro. Foi emocionante demais lembrar dos momentos da minha vida”, diz.

Em agosto, ela recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também participa de ‘Bacurau’, o elogiado filme de Kleber Mendonça Filho. “Gostei de fazer. Já tinha feito o (curta-metragem) ‘Recife frio’ (2009) com o Kleber, e agora o ‘Bacurau’. Se Deus permitir, quero fazer mais cinema, sim”, revela a cantora, que participou de ainda de ‘Sangue azul’ (2o15), de Lírio Ferreira, e foi tema dos documentários ‘Eu sou Lia’ (2003), de Karen Akerman, ‘O mar de Lia’ (2010), de Hanna Godoy, e o curta ‘Encantada’ (2015), entre outros filmes.

Em breve, ela também lança seu quarto disco, ‘Ciranda sem fim’, produzido por DJ Dolores e e a produtora cultural Ana Garcia. O disco chega às plataformas digitais no dia 8 de novembro, e traz Lia cantando em 11 faixas que vão além da ciranda. Ela surge cantando “O relógio”, bolero que em sua versão em português foi eternizado por Altemar Dutra, e “Apenas um trago”, do cantor e compositor José Ribeiro, sucesso na década de 70.

“Eu gostei de fazer, mostrei um outro lado. É um pouquinho diferente, né? Nunca cantei bolero, aí cantar bolero, cantar não sei o quê, música dos outros, é muito difícil. Você não acha? É muito difícil sair da sua praia para a dos outros. Mas está sendo bom. Espero que o público goste, que o Brasil goste”, diz a artista, que frisa: “Eu não posso deixar de gravar ciranda nem posso deixar de ser cirandeira. Minha praia é a ciranda.”

A faixa-título do álbum foi uma homenagem do cantor e compositor Lucio Sanfilippo a Lia. Ela também gravou “Falta de silêncio”, de Alessandra Leão, “Peixe mulher”, de Ava Rocha, e “Desde menina”, composição de Chico César feita para ela e que conta com a participação do artista, entre outras. Lia tem três discos anteriores: ‘Rainha da Ciranda’ (1977), ‘Eu Sou Lia’ (2000) e ‘Ciranda de ritmos’ (2010).

Prestes a começar a nova turnê, que abre dia 16 no festival Coquetel Molotov, em Recife, ela diz se sente feliz com sua trajetória. “Eu me sinto realizada, graças a Deus. É o dom que Deus me deu, que eu quis fazer, que gosto de fazer, que estou fazendo”, explica. Aposentada como merendeira de uma escola, ofício que exerceu por 28 anos, ela diz que gostaria de ver sua música mais valorizada em sua própria terra. “Para desempenhar meu trabalho, preciso sair de Recife para o exterior. Saio daqui para o lado de lá e sou bem-recebida”, lamenta.

No Rio, ela ainda participa do lançamento do livro sobre sua história, que acontece sexta no Rio Scenarium, com um bate-papo com ela e o autor, Marcelo Henrique Andrade, sessão de autógrafos e show das Filhas de Baracho, liderado por Dulce e Severina, cantoras de coco de roda que fazem parte da banda de Lia.

No domingo, às 21h30, ela do encerramento da FLUP — Feira Literária das Periferias, comandando uma ciranda nos pilotis do Museu de Arte do Rio (MAR). A ideia da atividade, chamada ‘Ninguém solta a mão de ninguém’, é que no final todos os participantes do evento abracem o museu.

Vai lá:

Virada Sustentável — Lia do Itamaracá e Jongo da Serrinha

Quando: Quinta-feira, 17 de outubro, às 19h

Onde: Circo Voador. Rua dos Arcos, s/nº – Lapa

Quanto: 1kg de alimento não perecível

Lançamento do livro ‘Lia de Itamaracá: 75 anos cirandando com resistência, sorrisos e simplicidade’

Quando: Sexta-feira, 18 de outubro, às 19h30

Onde: Rio Scenarium. Rua do Lavradio, 20 – Centro

Quanto: R$ 50 FLUPP — Feira Literária das Periferias

Quando: Domingo, 20 de outubro, às 21h30

Onde: Museu de Arte do Rio. Praça Mauá, 5 – Centro Quanto: Grátis

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