Após vitória, casal quer adotar mais duas crianças

Por: GRACILIANO ROCHA

Luciana Reis Maidana, lésbica que conquistou direito, vê a decisão como um presente de Dia das Mães para as duas

Ela acredita que vai ganhar o julgamento no Supremo Tribunal Federal e afirma que “os ministros não vão ter mentalidade tão fechada”

Um dia após o Superior Tribunal de Justiça reconhecer o seu direito de adotar dois meninos, uma das mães do casal homossexual de Bagé (366 km de Porto Alegre), a psicóloga Luciana Reis Maidana, 36, já pensa no próximo passo: adotar outras duas crianças.

Com a decisão do STJ, nas certidões de nascimento dos dois meninos, de 6 e 7 anos, passará a constar também o nome da fisioterapeuta Lídia Brignol Guterres, 44, com quem Maidana vive há 13 anos.
O caso ainda será julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

A seguir, leia trechos da entrevista concedida por Maidana à Folha.

FOLHA – Como as senhoras estão se sentindo depois da decisão do STJ?
LUCIANA REIS MAIDANA –
Foi um presente de Dia das Mães, para nós duas. Aqui em casa não tem mãe e tia. Criamos e educamos como mães.

 

FOLHA – O que muda na família?
MAIDANA –
O nome deles só. Eles acrescentam o sobrenome da Lídia porque passam a ter toda a seguridade que podem ter. No nosso cotidiano não muda nada porque há muito tempo a gente vive junto.

 

FOLHA – Como é, para os meninos, ter duas mães?
MAIDANA –
Eles chamam nós duas de mãe. Somos uma família extremamente feliz, pacata, quieta. Todo o tempo nós conversamos. Sabem que são adotados desde sempre. Isso mexeu bastante com nossa vidinha quieta.

 

FOLHA – Mexeu como?
MAIDANA –
Mantivemos o anonimato todos esses anos [desde 2005]. Quando estourou na mídia [anteontem], nossa casa virou uma loucura. Somente amigos muito íntimos e a família sabiam do processo. Tentamos preservá-los.

 

FOLHA – Por que adotar?
MAIDANA –
A maioria das mulheres tem esse desejo de ser mãe. No nosso caso, seria impossível. Não foi uma coisa aloprada. Nós nos planejamos e nos preparamos durante anos.

 

FOLHA – Por que entraram com o processo?
MAIDANA –
Essa luta toda foi para o bem-estare a seguridade deles. Não foi para levantar bandeira nenhuma nem para aparecer. O que a gente quer é a felicidade deles.

 

FOLHA – Embora tenham vencido nas instâncias inferiores, temiam derrota no STJ?
MAIDANA –
Claro. Embora tenhamos vencido aqui e em Porto Alegre [Tribunal de Justiça], quando foi para Brasília, a gente ficou bem preocupada.

 

FOLHA – Ainda resta o julgamento do STF…
MAIDANA –
Mas a gente vai ganhar também. Não é possível que [os ministros do Supremo] vão ter mentalidade tão fechada assim.

 

FOLHA – Já sofreram preconceito?
MAIDANA –
Nunca, nem nós nem os meninos. Não sabemos a partir de agora.

 

FOLHA – Nem na escola?
MAIDANA –
Nunca, em nenhuma das escolas deles. As pessoas viam com muita naturalidade. Os meninos têm duas mamães e não têm papai.

 

FOLHA – Acredita que essa decisão do STJ possa incentivar outras pessoas a fazer o mesmo?
MAIDANA –
Abriu-se uma porta para as pessoas que têm vontade e que tinham medo de esbarrar na Justiça. É possível. Espero que encoraje as pessoas a lutarem por suas famílias. A Justiça não está tão retrógrada e reconhece que uma criança criada por um casal dito diferente é uma criança normal.

 

FOLHA – Como será daqui para frente?
MAIDANA –
A gente tem intenção de adotar de novo, talvez um casal. É maravilhoso ser mãe, é tudo de bom. É o que existe de melhor na vida.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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