Babá desiste de levar acusação de discriminação em clube à Justiça

Elaine Pacheco – que só entrou no Caiçaras, na Lagoa, após sócia confirmar que ela era convidada – diz que o caso já lhe rendeu muita dor de cabeça

RIO — A babá Elaine Pacheco afirmou, na manhã desta segunda-feira, que não vai mais processar o Clube dos Caiçaras, na Lagoa, por ter sido barrada na entrada do estabelecimento mesmo com seu nome constando na lista de convidados. Elaine, que é negra, acompanhava os filhos dos patrões e teria sido avisada de que não poderia entrar por não estar de uniforme branco, como noticiou Ancelmo Gois em seu blog no GLOBO. Segundo Elaine, o caso já lhe rendeu muita dor de cabeça.

— Não imaginei que essa história tomaria esse tamanho todo e não pretendo expor ainda mais a minha família ou a dos meus patrões — justificou a babá.

O caso ocorreu na última terça-feira. Convidada por uma amiga, sócia do Caiçaras, para levar os filhos para brincar no local, Sabina Wasserman avisou que não poderia ir e que, em seu lugar, mandaria a babá. O nome de Elaine, que trabalha há dois anos para Sabina, foi deixado na portaria do clube, junto dos das crianças. Quando Elaine chegou, um dos seguranças a teria chamado de lado e perguntado se ela era babá. Quando a moça confirmou, teria sido avisada de que só poderia entrar se estivesse de uniforme branco. Elaine alegou que seu nome constava na lista de convidados. Mas, mesmo assim, os funcionários do clube impediram sua entrada. O impasse só foi solucionado quando a sócia, Fernanda Lewinson, foi localizada e autorizou a entrada dela sem uniforme.

Clube dos Caiçaras nega preconceito

O Clube dos Caiçaras explicou que permite o ingresso de babás que trabalhem para associados ou seus convidados, sem a contagem de convites, desde que estejam uniformizadas. Em nota, o clube alegou que Elaine chegou “sem estar vestindo roupa branca e sem que seu nome estivesse na lista de convidados”. O Caiçaras disse ter entrado em contato com a sócia, que, “então, incluiu o nome da babá em sua relação de convidados, e a mesma adentrou o clube, sem qualquer restrição.”

— É importante destacar que não há discriminação de raça, de credo ou de posição social dentro do clube. A babá entra uniformizada porque ela é uma prestadora de serviço como qualquer outro funcionário nosso que também trabalha uniformizado, como é a norma. Se a patroa dela não quer que ela use uniforme, ela tem todo o direito de colocá-la como uma convidada, que nesse caso estará indo ao clube para desfrutar dos nossos serviços — destacou o superintendente do Caiçaras, Durval Macieira.

Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex-secretário de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Jorge da Silva, o caso salienta dois tipos de racismo: o individual, no qual um julgamento é feito pelo indivíduo em questão, e o institucional, no qual os valores da instituição estabelecem o preconceito. Ele ressalta que, em ambas as situações, o racismo ocorre de uma forma que não é explicita e que isso tem muito a ver com o modo como o brasileiro encara problemas dessa natureza.

— Nós, como brasileiros, criamos uma idealização romântica de nossas relações sociais, onde nos apresentamos como uma sociedade que diz não ser racista e acabamos acreditando nessa mentira, o que nos traz problemas como esse, onde uma mulher humilde, negra e na função de empregada doméstica é discriminada tanto pelo indívíduo que lhe barrou a entrada como pela instituição, que a obriga a se diferenciar das outras pessoas pela utilização de um uniforme branco — detalhou o cientista social.

 

 

Fonte: O Globo 

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