Cachorro e gente é igual

(Foto: Lucíola Pompeu)

Aprendocom os livros infinitas paisagens, modos de vida e de pensar. Aprendo com os filmes aventuras, casos de amor, adrenalinas 24h. Aprendo com os jornais e com a TV escândalos políticos, esquerda e direita. O teatro me ensina a emoção da voz, a inflexão do corpo, o palco e a plateia. Já os museus me presenteiam com mestres e antepassados. A internet esparrama sobre meu espanto milhões de protagonistas com suas fotos, narrativas, verdades e mentiras.

Por  Fernanda Pompeu Do Yahoo

Tenho para mim que aprendemos no compasso da respiração. Nem mesmo o sono nos desliga dos 1001 sentidos que o mundo redige, imprime, recicla. Muitas vezes, me sinto esponja gigante aderindo aos fatos e suas versões. Outras poucas, percebo que sou eu quem ensina alguma coisa através de um gesto, uma crônica, um olhar. Mas demorei para ter essa compreensão da vida escola sem muros.

Pois já acreditei nos canudos, certificados, prêmios. Cai na esparrela, ardil, armadilha de que algumas pessoas tinham o discurso mais autorizado do que outras. A ideia que uma minoria deva falar e a maioria se contente em ouvir é o princípio número 1 do pensamento autoritário. Mas não só autoritário. Ele é estreito de dar dó, considera o contraditório conchinha no areal.

Quem ensina para valer é a vida. Essa frase é 100% chavão e também 100% correta. Pois é a vida – com lógica, demência, lisura, trapaça – a que rompe janela adentro derrubando mesas, abajures, televisores, computadores. Levantando tapetes e enchendo meu nariz com poeiras. As velhas certezas quase me engasgam. Tusso. Me recomponho.

É na troca de frases na esquina, na padaria, nas inevitáveis filas que meu conhecimento das pessoas se aperfeiçoa. Na negociação de histórias cotidianas, comezinhas, até minúsculas meu sentido de mundo se alarga. Aprendo com a mãe advertindo o filho ao atravessar a rua. Com Fernando, o jornaleiro, contando que as revistas vendem cada vez menos. Com o abraço tímido da empregada da vizinha ao saber que meu cachorrinho morreu.

Por sinal, aprendi gigabytes com o meu cachorro Chico. Por 16 anos, em nossos passeios matinais, ele me deu aulas de alegria e do inocente e estrondoso prazer de estar vivo. Só isso, tudo isso! Vou, é claro, seguir fazendo as lições. Agora sei que nunca estarei pronta. A barca do conhecimento não alcança porto nenhum. Ela é o próprio mar.

-+=
Sair da versão mobile