Camila Pitanga é favorita em premiação do Festival do Rio

Atriz concorre pelo filme “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”

Há uma rara unanimidade de que Camila Pitanga deve ganhar o Redentor de melhor atriz no Festival do Rio. Camila aparece nua em “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca, mas a exposição física é o de menos. Luchino Visconti disse certa vez a Florinda Bolkan que uma atriz com dificuldade para trabalhar com o corpo não chegaria a lugar nenhum, e isso a convenceu a se desnudar em “Os Deuses Malditos”. Mais complexa, e até sofrida, pode ser a nudez de sentimentos, que Camila expressa agora.

Existem muitos bons atores – João Miguel, João Miguel, João Miguel, de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Vinicius Coimbra -, mas o troféu para a melhor interpretação masculina poderia ir muito bem para Lázaro Ramos, por “Amanhã Nunca Mais”, de Tadeu Jungle. Teríamos hoje, no encerramento do Festival do Rio, uma noite de triunfo étnico no Odeon BR, mas o que se estaria celebrando não é nenhuma cota e sim, o talento e a beleza da raça. Na saída de “Amanhã”, Ramos brincou com o repórter – “E eu nem me lembrava do filme que rodei em 2009!”.

“Amanhã” tem uma pegada de “Depois de Horas”. Como no cult de Martin Scorsese, há um homem que perdeu o controle de sua vida e cai na noite para o que parece uma coisa simples – pegar na doceira o bolo de aniversário da filha -, mas a situação complica-se cada vez mais. E tudo converge para esse momento que deve tudo à grande arte de Lázaro Ramos. O protagonista recupera as rédeas da própria existência e esboça um sorriso. “Um sorriso desse tamanhinho, porque eu queria que fosse uma coisa muito sutil”, esclareceu o diretor Jungle, de largos serviços na videoarte, mas neófito no cinema.

Quem leva o Redentor de melhor filme? Não existe nenhuma unanimidade, o filme que, de maneira acachapante tenha se imposto a todo mundo. Não faz mal, Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra (mas até ele aprovaria Camila e Ramos). Cada um tem seu favorito. Existem filmes pequenos, de um perfil autoral, que já foram testados e aprovados em festivais europeus (os de Júlia Murat e Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, “Histórias Que Só Existem Quando Contadas” e “Girimunho”). Não são os melhores. A Première Brasil de 2011 estava morna. Só começou a esquentar na quinta-feira, quando vieram “Sudoeste”, de Eduardo Nunes – com outra forte candidata a melhor atriz, Simone Spoladore, mas ela já levou em 2010 -, o poderoso “Matraga” de Vinicius Coimbra e o filme de Jungle, de perfil completamente paulistano.

Com os documentários, ocorreu a mesma coisa. Houve filmes interessantes, bons, mas Eduardo Coutinho, com “As Canções”, e Isa Grinspum Ferraz, com “Marighella”, deram o upgrade. Ela sabe que vai encontrar resistência. Carlos Marighella, para Isa, era o tio Carlos e o que ela quis foi revelar o marido da irmã de sua mãe, o homem afetuoso, o contador de histórias, mostrando que não era o assassino frio retratado pela história oficial. O tom é afetivo, mas os depoimentos revelam o pensador, o estrategista da guerrilha. Antonio Candido não deixa por menos e diz que foi um dos maiores brasileiros do século 20. Isa não conseguiu imagens em movimento de Marighella. Usa somente fotos, e um número limitado delas. Ela incorpora o fato, transforma-o na pedra fundamental do conceito estético de seu documentário. Todos esses filmes, os documentários como as ficções, trazem embutida uma discussão sobre o mercado. Existe espaço para esse cinema de investigação, seja estética ou política? Dividido entre o blockbuster e o filme miúra, o mercado de cinema do Brasil tem espaço para uma terceira via? No Rio, na Première de 2011, pode-se dizer que sim. As informações são do jornal O Estado de São Paulo.

Fonte: Correio do Povo

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