Chacina por vingança

Onde estão as câmeras que mostrarão a tortura a céu aberto?

FONTEFolha de São Paulo, por Thiago Amparo
Thiago Amparo é Advogado, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste) - Foto: Marcelo Hallit

O governador está nu, e por baixo dele há sangue. Tarcísio, o político vendido como um bolsonarista moderado (um oxímoro), desmoderou o que nunca foi comedimento: por baixo da roupagem de um político que sabe, ao contrário de Bolsonaro, aparentar seriedade quando lhe convém, resta a promoção explícita da violência, único produto que o seu partido, o do fuzil, sabe vender. O governador paulista quer vender uma ideia: inevitabilidade.

Quer que acreditemos que é inevitável que segurança pública signifique torturar, até a morte, o vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30. “Ouvimos tiros. Ele só gemia de dor e implorava por ajuda”, disse uma moradora de 28 anos. Quer que acreditemos que é inevitável que segurança pública signifique aterrorizar a população. “Ele [policial] disse que daria um tiro na minha cara na frente da minha filha”, declarou um morador de 34 anos. Não é.

Ato em repúdio as mortes na Baixada Santista na praça 14 Bis, em Guarujá – Danilo Verpa/Folhapress – Folhapress

De Tarcísio nada se espera, disso sabemos: o mandatário encontra-se “extremamente satisfeito” com a chacina em Guarujá (SP), que já representa metade de todos os mortos pela PM de São Paulo neste primeiro semestre de 2023. Resta saber se o Judiciário paulista e os órgãos de controle da polícia externos (Ministério Público) e internos (corregedoria) deixarão o sangue correr impune. A regra no país sempre é que a polícia executa, o governador aplaude e o Judiciário se cala.

Tarcísio quer que acreditemos que é inevitável usar policiais num ciclo de chacina por vingança, onde nem os policiais, nem a população ganham. O único que ganha é o próprio governador que, como mestre de marionetes, faz do espetáculo do medo o seu palco para a projeção nacional. Não é o único. A barbárie policial é democrática: os governos bolsonaristas e petistas de Rio e Bahia concentram, hoje, 43% das mortes da polícia no país. Com as câmeras corporais, São Paulo reduziu a letalidade, mas Tarcísio parece disposto a aumentá-la: onde estão as câmeras dos policiais de Guarujá que mostrarão a tortura a céu aberto?

-+=
Sair da versão mobile