Chico Buarque, um ser totalmente explícito

Chico é um homem totalmente explícito.

Explico: entorna lirismo que nasce de um sujeito masculino, feminino, heterossexual, homossexual, marginal…

Derrama o escondido, o camuflado, o cabotino, em torrentes caudalosas sobre nós.

Chico explicita os eus de nós da forma mais bela. Liricamente.

por Odonir Oliveira, no GGN

“Passas sem ter teu vigia/ Catando a poesia / Que entornas no chão”

DESENCONTRO

A sua lembrança me dói tanto

Eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal
Fala em você
Canta você
É sempre igual
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis

Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu

NÃO SONHO MAIS

chico-buarque

TANTO AMAR

AS VITRINES

Eu te vejo sumir por aí

Te avisei que a cidade era um vão

– Dá tua mão

– Olha pra mim

– Não faz assim

– Não vai lá não

Os letreiros a te colorir

Embaraçam a minha visão

Eu te vi suspirar de aflição

E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser

Tua sombra a se multiplicar

Nos teus olhos também posso ver

As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão

É como um dia depois de outro dia

Abrindo um salão

Passas em exposição

Passas sem ver teu vigia

Catando a poesia

Que entornas no chão.

 

Leia Também: Chico Buarque fala sobre racismo

-+=
Sair da versão mobile