Com gosto apurado, Jerome Meyinsse, pivô rubro-negro mostra seu talento como trompetista

Do alto de seus 2,07m, americano Jerome Meyinsse revela refinado conhecimento musical: “Nos Estados Unidos, também são raros os atletas que tocam”

Pagode, samba, sertanejo, hip hop, funk. Independentemente da modalidade, esses geralmente são os gêneros musicais preferidos da maioria dos atletas profissionais. Mas toda regra tem sua exceção. No time de basquete do Flamengo, que encara o Paulistano no próximo sábado, às 10h10, em busca do seu terceiro título do NBB em seis edições, ela atende pelo nome de Jerome Meyinsse. Nascido em Baton Rouge, na Lousiana, o pivô de 2,07m se agarra às raízes e tem o jazz na ponta da língua. Literalmente. Trompetista na adolescência, o americano foi influenciado pelo pai Joseph e tocou na banda da escola antes de ter que optar entre a música e o esporte. O basquete venceu a queda de braço, mas a paixão pela música permanece viva até hoje nas veias do destaque rubro-negro no jogo 4 da série semifinal diante de Mogi das Cruzes. E promete ser recompensada quando o camisa 55 pendurar as munhequeiras.

– Na escola, eu dividia meu tempo entre o basquete e o trompete. Metade do ano treinava e jogava, e na outra metade, na época do futebol americano, tocava na banda. Optei pelo basquete porque o joelho de um atleta tem prazo de validade e só aguenta até um certo tempo (risos). O trompete não, posso tocar quando parar de jogar – brincou o americano, que anotou 34 pontos, seu recorde pessoal, na quarta partida das semifinais contra o Mogi.

Nas horas vagas, Meyinsse troca a bola de basquete e o uniforme do Flamengo por seu trompete (Foto: Marcello Pires
Nas horas vagas, Meyinsse troca a bola de basquete e o uniforme do Flamengo por seu trompete (Foto: Marcello Pires

Mas até lá Meyinsse terá que pegar vários rebotes, marcar muitos pontos e aguentar o tranco dentro do garrafão. Se em quadra o esforço físico sobressai, com o instrumento nas mãos a concentração mental é muito mais exigida. De acordo com o “professor” Jerome, além da prática, a respiração e o fôlego são pré-requisitos fundamentais para uma pessoa se tornar um bom trompetista.

– Nos Estados Unidos, também são raros atletas que tocam. O trompete é um instrumento muito difícil de aprender. É necessário muito pratica para chegar às notas mais altas e bastante fôlego. Além de exercícios com a boca e para o abdômen, temos que fazer um zumbido com o bocal para colocar o ar de maneira mais rápida no instrumento – ensinou Meyinsse, que recebeu a reportagem do GloboEsporte.com ao som de “Do Whatcha Wanna”, da Rebirth Brass Band.

A música sempre fez parte da vida de Jerome. Primeiro por influência do pai, que também tocava trompete, depois pela preferência por jazz, música clássica e reggae. Se nas quadras Shaquille O’neal sempre esteve no centro das atenções, as referências musicais do pivô rubro-negro são Wynton Marsalis, Miles Davis e Dizzy Gillespie, trompetistas marcantes no desenvolvimento do movimento bebop no jazz moderno.

Não foi só o gosto musical que sofreu uma interferência na vida de Jerome Meyinsse desde que o pivô desembarcou no Rio de Janeiro em agosto de 2013. Com um português compreensível e morando a dois quarteirões do trabalho e da Praia do Leblon, o tímido gigante rubro-negro incorporou de vez o estilo de vida do carioca e afirma que gostaria de permanecer no Flamengo por mais tempo apesar de já ter recebido alguns convites de times da NBA para participar da Summer League (Liga de Verão dos Estados Unidos).

Com 34 pontos contra Mogi, no jogo 4 das semifinais, Meyinsse registrou a melhor marca de sua carreira (Foto: LNB)

– Eu adoro a cultura brasileira. Desde a culinária até a língua portuguesa. Gosto das músicas, das praias, vai ser muito difícil deixar o Brasil um dia. As pessoas não me reconhecem tanto na rua e algumas nem sabem que sou americano, mas a primeira impressão da maioria é que sou atleta de basquete ou de vôlei pela minha altura. Minha vontade é renovar com o Flamengo e permanecer no basquete brasileiro, mas não conversei com ninguém sobre isso ainda. No momento estou focado apenas na final do NBB – afirmou o pivô, que se apresentou virtualmente aos companheiros de time no natal de 2013, através de um vídeo gravado nos Estados Unidos.

Com médias de 12.4 pontos, 5.1 rebotes, 0.6 assistência, 0.7 bolas recuperadas e 0.9 toco por partida, Jerome Meyinsse fez o torcedor do Flamengo esquecer Caio Torres, atualmente no São José, e tem sido um dos destaques da excelente campanha rubro-negra na competição. Apesar dos bons números, o pivô reconhece que precisou de um certo tempo para se adaptar à velocidade do jogo no Brasil.

– O tempo de bola e a velocidade aqui são muito mais rápidos do que na Argentina e no basquete universitário americano. Os árbitros brasileiros param mais o jogo e permitem menos contato físico entre os jogadores. Estou gostando muito do NBB, mas é fácil gostar quando se está ganhando (risos). Até o momento nossa temporada tem sido muito boa, mas ainda temos um objetivo pela frente – disse o jogador.

Antes de se despedir e correr para o treino na Gávea, Jerome Meyinsse esbanjou bom humor. Com o sorriso escancarado no rosto, o músico nas horas vagas soltou a voz ao som do “Lepo Lepo”, tocou “Gilr on Fire”, interpretada por Alicia Keys no Rock In Rio de 2013, e fez duas revelações.

– Usei muito o trompete para conquistar as meninas no colégio (risos). Agora só falta eu aprender o hino do Flamengo.

 

Fonte: Globo Esporte

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