Cantora sexy de voz delicada vira parceira musical de rapper encrenqueiro e deixa sua baladinha pop com uma levada mais “hip hop”. A fórmula usada à exaustão por musas do R’n’B como Jennifer Lopez, Beyoncé e Mariah Carey, demorou, mas finalmente ganhou versão brasileira.
Com o toque de Midas de produtores que entendem de mercado, Wanessa Camargo, Negra Li e, ainda no forno, Karin Hils, seguem os passos das colegas americanas e se aventuram em uma cena pouco explorada por aqui.
Ja Rule, rapper desbocado que já rimou em faixas de J.Lo, Mariah e Mary J. Blige, é o mais novo amigo de infância de Wanessa Camargo. O americano e a “neta de Francisco” cantam “Fly”, faixa em inglês que fará parte do próximo álbum da cantora, “Meu momento”, com lançamento previsto para este mês.
A parceria pretende marcar uma virada na carreira de Wanessa. Em entrevistas recentes, a moça anunciou que deixará de usar o sobrenome do pai sertanejo em seus discos.
A mudança também incluiu o visual. Esqueça a moreninha comportada de cabelo escovado, pois, a Wanessa “só Wanessa”, é loira platinada à la Kate Moss, usa modelitos descolados e acessórios cheios de brilho, no rastro das últimas tendências.
Foi assim, glamurosa, que apareceu ao lado de Ja Rule no clipe de “Fly”. Lançado há pouco mais de um mês no YouTube, o vídeo ultrapassou a marca dos 976 mil acessos. A música também vai bem nas rádios: na última semana foi a 12ª mais executada nas FMs, segundo ranking do site Hot 100 Brasil.
Além das rimas de Ja Rule, a canção tem arranjos assinados por Deeplick, o nome da vez na cena pop. O produtor transformou em “hits de pista” faixas de Marisa Monte (“Não é proibido”), Seu Jorge (“Burguesinha”) e Vanessa da Matta (“Não me deixe só”).
Rap e melodia
Outra que virou parceira de rapper gringo foi Negra Li. A paulistana gravou com Akon, americano de origem senegalesa, a música “Beautiful” – faixa que também canta com a mexicana Dulce María, ex-RBD em início de carreira-solo.
Segundo a cantora, o convite para o dueto partiu do rapper. “Faz parte de uma estratégia da gravadora Universal para popularizar o Akon junto ao público latino”, diz Negra Li, que no mês passado participou do videoclipe da faixa ao lado do americano. “Foi muito divertido. Eu já era fã antes de conhecê-lo”.
Diferente de Wanessa, ela canta em português e garante que seu objetivo principal ao aceitar o convite de Akon não foi o mercado internacional. “Sou uma cantora de ‘r&b’, que é um estilo ainda difícil de ser digerido aqui. Tem gente que me classifica como uma cantora de rap, mas na verdade, me preocupo mais com a melodia”, revela. “Espero que essa participação mostre que existe um ‘r&b’ brasileiro”.
Negra Li conta que “adoraria convidar Kanye West e Snoop Dogg” para participar de seu próximo disco. “Sei que o Snoop fala muita bobagem machista, mas o ritmo e o tom de voz dele me agradam muito”.
Assim como a artista, o produtor do coletivo de hip hop Instituto, Rica Amabis, vê potencial na cena “r&b” nacional. Mas faz ressalvas.
“É claro que há mercado para esse tipo de música. Principalmente se a propaganda e a execução nas rádios forem grandes”, diz Amabis. “Mas não vejo nenhuma identidade brasileira nestas parcerias recentes: é música americana feita por brasileiros. Quero ver se o Akon ou o Ja Rule seriam capazes de cantar em cima de uma base de samba”.
Temática
Rick Bonadio, produtor musical de fenômenos como Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr. e NX Zero, acredita que a colaboração de rappers internacionais enriquece a cena pop do país, mas alerta para “o perigo da cópia”.
“O ‘r&b’ brasileiro ainda está no embrião. Acho que tudo deveria ser gravado em português, assim o risco de essas cantoras se tornarem clones de produtos estrangeiros é menor”, opina.
Atualmente, Bonadio se prepara para lançar mais uma artista de ‘r&b’: Karin Hils. A moça, ex-integrante do grupo Rouge, cantou no álbum de estreia do rapper goiano Túlio Dek, “O que se leva da vida é a vida que se leva” (2008).
“O disco da Karin terá participação de alguns MCs, mas não posso dizer quem são, ainda não fechamos nada”, explica. “Também estou produzindo o trabalho de uma dupla de música eletrônica, O Pacto, que também deverá ter a colaboração de um rapper”, adianta Bonadio, se referindo à banda formada pela ex-BBB Josy Oliveira e pelo músico Marlos Vinícius.
Além das faixas em português, Bonadio aposta em outro artifício para evitar o “efeito clone” em seus artistas de “r&b”. Segundo ele, a temática das letras da cena americana não deve ser adotada por aqui.
“Posar de rica e gostosa como a Beyoncé, que ainda fala um monte de bobagens, agrada aos americanos, mas aqui não cola. A cantora seria considerada metida, não teria aceitação”, analisa. “E rapper pagando de poderoso, milionário e comedor também sofreria rejeição do público”.
Bonadio aposta que a nova fase de Wanessa, apesar de cantar em inglês, abrirá caminho para toda uma geração de cantoras de ‘r&b’ nacional. “Pode ver que ela está glamurosa como a Beyoncé, mas na letra da música continua sendo a mesma menina comportada e romântica de sempre”.