Como o uso de dados pode ajudar a solucionar o racismo

Phillip Atiba Goff participou de painel mediado por Cara Mertes, da Fundação Ford, durante o Fórum Econômico Mundial. (Foto: Reprodução/ Fórum Econômico Mundial)

Phillip Atiba Goff, co-fundador e presidente do Center for Policing Equity, falou sobre a importância do uso de dados na elaboração de estratégias de equidade durante o Fórum Econômico Mundial

Por Bruno de Lima, do Época

Phillip Atiba Goff participou de painel mediado por Cara Mertes, da Fundação Ford, durante o Fórum Econômico Mundial. (Foto: Reprodução/Fórum Econômico Mundial/Imagem retiradado site Época)

Para combater o racismo, primeiro é necessário entendê-lo da maneira certa. É isso que afirma o co-fundador e presidente do Center for Policing Equity, Phillip Atiba Goff. Em painel, realizado durante o Fórum Econômico Mundial, que acontece até dia 24 de janeiro em Davos, o sociólogo falou sobre como a definição errônea de racismo – muito difundida na sociedade – atrapalha a elaboração de políticas que atuem contra esse problema estrutural.

Segundo Goff, a definição mais comum é que o racismo é ‘produto de corações e mentes defeituosas’. Entretanto, essa concepção acabaria gerando uma falsa sensação de controle na população, visto que implica que o problema se limita apenas ao caráter individual de cada pessoa e que para solucioná-lo, basta ter autocontrole.

“É mais confortável pensar que se nossos sentimentos estão errados, podemos mudá-los”, diz.

Da perspectiva científica e prática, no entanto, este conceito é errôneo, diz Goff. Uma das ideias fundamentais da psicologia social, afirma ele, é que a forma como um indivíduo vê o mundo possui um impacto muito baixo em seu comportamento. Acreditar que o caminho para acabar com o racismo é tentar mudar os sentimentos das pessoas, portanto, não resolveria o problema.

Segundo o sociólogo, o primeiro passo para a mudança é definir o racismo como um padrão de comportamentos. “Quando o encaramos dessa forma, o racismo se torna um problema solucionável.” Isso porque comportamentos são mensuráveis, permitindo que as organizações os analisem e consigam criar uma planejamento estratégico para campanhas que visem equidade.

O poder dos dados

De nada vale implementar uma política de igualdade se seus resultados não forem mensurados, afirma Goff. Mesmo assim, muitas empresas ainda adotam essa postura. “Do que vale implementar uma campanha de marketing que visa o estimular a diversidade se não é possível mensurar os impactos que ela tem na sociedade?”, diz. O primeiro passo para criar uma estratégia efetiva, portanto, seria ter em mãos dados que evidenciem o problema e sirvam como norte para a elaboração de um plano de ações.

O sociólogo usou como exemplo o CompStat, sistema utilizado pela polícia norte-americana que permite identificar padrões de comportamento relacionados a práticas criminosas com base em estatísticas de violência. Essas informações geralmente são usadas para definir para onde os recursos dessas organizações devem ser direcionados.

Se os dados apontarem um aumento de crimes em determinado bairro, a polícia pode aumentar o número de patrulhas naquela região, por exemplo. “Se você definir o racismo como um padrão de comportamentos mensuráveis, é possível fazer o mesmo.”

É exatamente esse o trabalho realizado pelo Center for Policing Equity, comandado por Goff. A organização analisa e elabora estratégias para diminuir a disparidade racial na atuação das forças de segurança pública. No caso das polícias norte-americanas, o primeiro dado analisado foi a frequência em que a população negra era alvo de uso desproporcional de força.

Com essas informações em mãos, os analistas determinaram as regiões da cidade em que esses casos eram mais frequentes. Em seguida, foi necessário separar as circunstâncias desses casos entre situações que a polícia podia ou não adotar outro tipo de comportamento. Com bases nesses dados, foi possível criar planos de ação para tentar remediar o problema.

Tal postura deveria ser reproduzida por empresas. “Primeiro, é necessário perguntar para seus colaboradores onde você está errando”. Esse processo deve continuar até que existam dados os suficientes para apontar a origem do problema e identificar formas de solucioná-lo, afirma Goff.

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