Conheça Abdias do Nascimento, o novo nome no livro de ‘Heróis do Brasil’

Político e intelectual brasileiro, Abdias do Nascimento estará ao lado de figuras como Maria Quitéria, Machado de Assis, Chico Mendes e Anita Garibaldi

FONTEPor Francisco Artur, do Correio Braziliense
Abdias do Nascimento: Escritor, ator, artista plástico, professor, político e ativista | Foto: Paulo Moreira/Agência O GLOBO

Nascido no dia 14 de março de 1914, na cidade de Franca, em São Paulo, Abdias do Nascimento foi um jornalista, escritor, ator e político brasileiro. Seu nome foi colocado, nesta terça-feira (9/1), no livro de Heróis e Heroínas da Pátria pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com isso, Abdias do Nascimento está ao lado de figuras como Maria Quitéria, Machado de Assis, Chico Mendes e Anita Garibaldi. Na política, Abdias do Nascimento assumiu mandatos de senador pelo PDT. Seus discursos, disponível no site do Senado, abordam sobretudo temas relacionados à necessidade de combater o racismo. 

Oriundo de família pobre, os pais e avós de Abdias foram escravizados. Ele nasceu 26 anos após a abolição da escravatura. Sua infância e adolescência foram repletas de barreiras e desafios. Ele revelou, durante uma entrevista à Revista Acervo, em 2009, que compreendeu o que era injustiça e racismo quando era criança. Abdias morreu em 2011, com 98 anos.

O caso envolveu sua mãe, que arrancou dos braços de uma mulher branca um menino de rua que, na ocasião, estava apanhando dela. “As palavras de minha mãe, a atitude dela, foram as minhas primeiras lições de solidariedade racial, a primeira lição de panafricanismo que recebi ainda menino”, disse o ativista.

Quem foi Abdias do Nascimento

Como parlamentar, o mais novo nome do livro de Heróis e Heroínas da Pátria apresentou projetos de combate ao racismo. Um deles é o projeto de lei 1332/1983, que versava sobre a necessidade de o estado brasileiro formular políticas compensatórias à população negra. Essa iniciativa foi apresentada na Câmara em 1983. 

“Os africanos não vieram para o Brasil livremente, como resultado de sua própria decisão ou opção. Vieram acorrentados, sob toda sorte de violências físicas e morais; eles e seus descendentes trabalharam mais de quatro séculos construindo este país. Não tiveram, no entanto, a mínima compensação por esse gigantesco trabalho realizado. (…) É tempo de a Nação brasileira saldar esta dívida fundamental para com os edificadores deste país. (…) Fazem-se necessárias, portanto, medidas concretas para implementar o direito constitucional da igualdade racial (…)”, diz o trecho da lei.

Também é conhecido um discurso de Abdias do Nascimento no Senado, em sessão plenária de 1998, em que ele problematiza a situação do negro na sociedade. Na ocasião, ele comentou os 110 anos da Lei Áurea — iniciativa assinada pela Princesa Isabel que determinou o fim da escravidão no Brasil.

“Sem terras para cultivar e enfrentando no mercado de trabalho a competição dos imigrantes europeus, em geral incentivados pelo governo brasileiro, preocupado em branquear física e culturalmente a nossa população, os descendentes de africanos entraram numa nova etapa de sua via-crúcis. De escravos, passaram a favelados, meninos de rua, vítimas preferenciais da violência policial, discriminados nas esferas da Justiça e do mercado de trabalho, invisibilizados nos meios de comunicação, negados nos seus valores, na sua religião e na sua cultura”, proferiu o parlamentar.

Abdias jornalista, ator e escritor

O mais novo integrante do Livro de Heróis e Heroínas da Pátria atuou como jornalista em um veícuulo denominado Jornal do Quilombo. Como escritor, Abdias do Nascimento escreveu o livro O Genocídio do Negro Brasileiro. Além disso, ele produziu uma obra de arte — a pintura Okê Oxóssi, exposta no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Como ator, Abdias do Nascimento atuou em peças de teatro.

Indicado ao Nobel da Paz

Abdias do Nascimento também foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, um ano antes da sua morte. O intelectual é considerado professor emérito da Universidade do Estado de Nova York. Ele também fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu de Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro).

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