Desmond Tutu, símbolo da luta contra o apartheid e Nobel da Paz, morre aos 90 anos

Arcebispo era considerado um símbolo na luta contra o regime de segregação racial que vigorou por mais de 40 anos na África do Sul.

FONTEDo G1
Desmond Tutu em foto de 21 de maio de 2013 (Foto: Reuters/Paul Hackett/File Photo)

Morreu aos 90 anos o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o apartheid na África do Sul. A informação foi confirmada pelo presidente do país, Cyril Ramaphosa, neste domingo (26).

“A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto no adeus de nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos deixou uma África do Sul liberta”, disse Ramaphosa.

“Desmond Tutu era um patriota sem igual; um líder de princípio e pragmatismo que deu significado à compreensão bíblica de que a fé sem obras está morta”, continuou o presidente.

O apartheid foi um regime segregacionista que vigorou na África do Sul de 1948 a 1991, que separava pessoas negras das brancas e dava às últimas domínio do poder político e econômico no país.

Julho de 1988 – O arcebispo Desmond Tutu fala para multidão em evento de protesto pedindo a libertação de Mandela, no Hyde Park, em Londres. O ato ocorreu no dia 17, à véspera do aniversário de 70 anos do líder então encarcerado (Foto: Anna Tully/AFP/Arquivo)

Ativista pelos direitos humanos, o arcebispo anglicano falava sobre a ocupação do território palestino por Israel, direitos da população LGBTQIA+, mudanças climáticas e outros assuntos de relevância mundial.

Tutu deixa a esposa, Nomalizo Leah, e quatro filhos.

Luta contra o racismo

Em 1984, Tutu recebeu o Nobel da Paz por sua oposição não violenta ao apartheid. Uma década mais tarde, ele testemunhou o fim do regime e presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação, criada para revelar as atrocidades cometidas durante aqueles dias sombrios.

Tutu comandou numerosas marchas e campanhas para acabar com o apartheid nos degraus da entrada da Catedral de São Jorge, e em resultado disto esta se tornou conhecida como a “Catedral do Povo” e um símbolo poderoso da democracia local.

Ele foi amigo de toda a vida de Nelson Mandela, e durante algum tempo morou na mesma rua do município sul-africano de Soweto — a única rua do mundo que abrigou dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz.

Desmond Tutu em seu aniversário de 85 anos (Foto: Rodger Bosch / AFP)

“Sua qualidade mais característica é sua prontidão para adotar posições impopulares sem medo”, disse Mandela certa vez a seu respeito. “Tal independência de mente é vital para uma democracia vicejante”.

A morte de Tutu ocorre poucas semanas depois da morte do último presidente da era do apartheid na África do Sul, FW de Clerk, que morreu aos 85 anos.

O presidente Ramaphosa disse que Tutu era “um líder espiritual icônico, ativista anti-apartheid e ativista global dos direitos humanos”.

Ordenado sacerdote em 1960, serviu como bispo do Lesoto de 1976-78, bispo assistente de Joanesburgo e reitor de uma paróquia em Soweto.

Arcebispo sul-africano Desmond Tutu dança depois o prêmio Templeton 2013 (Foto: Ilan Godfrey/Templeton Prize/Reuters)
O arcebispo aposentado sul-africano Desmond Tutu e o líder espiritual tibetano Dalai Lama dão risadas em momento descontraído durante conversa na Escola da Vila de Crianças Tibetanas em Dharmsala, na Índia, em 2015. Os dois vencedores do Nobel prepararam um livro juntos (Foto: Ashwini Bhatia/AP)

Em 1985, ele se tornou bispo de Joanesburgo e foi nomeado o primeiro arcebispo negro da Cidade do Cabo.

Tutu usou sua função relevante de sacerdote para falar contra a opressão dos negros, sempre baseado em motivos religiosos e não políticos.

Ele também foi creditado por cunhar o termo “Nação Arco-Íris” para descrever a mistura étnica da do país, mas em seus últimos anos andava lamentando que a nação não se uniu do modo como ele sonhou.

Desmond Tutu discursa na inauguração de uma exposição sobre Mandela na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 30 de junho de 2013 (Foto: AFP)

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