Dicionário de Mulheres Negras do Brasil

Eu acho que já falei desse livro aqui, mas não cansa repetir: comprei um exemplar para mim ontem. Cheguei em casa muito cansada, mas, ao começar a folhear as páginas, não consegui deixar de ir até o fim. Depois disso, abracei o livro e me senti abraçando todas aquelas mulheres ali fotografadas e ainda as que ali não estavam. Me senti abraçada também, fortalecida novamente.

Ele é enorme, cheio de fotos e informações valiosas sobre as histórias das mulheres negras brasileiras, com prefácio de Sueli Carneiro. Comecei a ler e a emocionar-me com as primeiras palavras.

Livres, as suas saias rodadas, as cores vistosas, os panos da costa, os torsos coloridos começam a esmaecer. Os tons vão se acinzentando como a existência diante da evidência de que a conquista da liberdade e da igualdade não pode ser sempre frustrada pela ação implacável do racismo e da discriminação. Mas lá como cá, hoje como ontem a subordinação imposta como destino é subvertida e lá vem elas: são professoras, escritoras, deputadas, pintoras, doutoras, atletas, maestrinas, compositoras, ativistas, militantes, desafiando os persistentes processos de exclusão. (Sueli Carneiro)

Segui olhando as fotos e reconhecendo-me em tantas delas! Tentando apreender partes de mim que aos poucos ficaram esquecidas, amordaçadas por aí. Nos balangandãs, nas cores, nos sorrisos, nas tristezas.

Para terminar, comecei a Orfeu Negro e deparei-me, nas primeiras cenas, com Senhor Cartola e Dona Zica fazendo uma participação especial. Deixei as lágrimas rolarem pensando na vida de Cartola, em tudo que ele escreveu e em como as gente que cantam “se hoje ele [samba] é branco na poesia, ele é negro demais no coração” não entendem nada, mas nada mesmo de música brasileira.

Fonte: Palavra de Cor

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