E ele não estava lá – por Alexandre Ribondi

Loura, um pouco baixa, com flor no cabelo. Os botões da blusa, ali pela altura do umbigo, faziam um esforço hercúleo para se manterem presos ao pano.

Eu estava sentado numa mesa perto da dela, no café na entrada sul do Brasília Shopping. Ela dobrava roupas, que colocava e tirava de dentro da sacola.

E começou a conversar com um homem que não ia embora, com quem ela havia sido infeliz: “Por que eu devo te respeitar? Você nunca pagou minhas contas, nunca me levou ao orgasmo. Então, por quê?”

As moças da loja Ávida olhavam através da vitrine. Cochichavam e riam. De repente, a loura fez escândalo, aos berros: “Você vai devolver minha felicidade? Se cuida porque, senão, vai ficar cheio de bala nesse corpo, começando pelos dedos dos pés”.

Eu queria ter visto a cara do homem, mas só ela sentia sua presença, só ela via o canalha que era homem dos seus sonhos, que era lágrima oca. As moças da Ávida se assustaram, os seguranças do shopping, de maneira discreta, se aproximaram. Foi aí que nossos olhos se encontraram no ar, por acaso.

E entendi, acho que entendi, a solidão profunda da loura com flor no cabelo, amargurada por um homem que não estava lá.

 

 

Fonte: Facebook

-+=
Sair da versão mobile