“É uma forma política de se manifestar”, diz historiador sobre derrubada de estátuas

FONTEAventuras na História, por Fabio Previdelli
Estátua do rei Leopoldo II da Bélgica vandalizada após protestos Imagem: Jonas Roosens/Belga/AFP

No dia 25 de maio de 2020, um triste fato reascendeu a discussão sobre o racismo na sociedade americana e o tratamento policial contra os afro-americanos: a morte de George Floyd.

Desde então, o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) realizou uma série de protestos, o que acabou culminando com o levantamento de outras pautas referentes ao racismo estrutural presente na sociedade.

Com isso, manifestantes, não só nos Estados Unidos, começaram a derrubar estátuas de figuras históricas consideradas supremacistas e escravagistas, como Josefina de Beauharnais e Leopoldo II, da Bélgica.

Porém, o ato, visto por muitos como uma forma de acabar com a perpetuação de ideias racistas, é considerado por uma parcela mais conservadora como sendo vandalismo e uma tentativa frustrada de apagar a história.

Em entrevista exclusiva à Aventuras na História, o historiador José Rivair Macedo, doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e autor do livro História da África (Editora Contexto), fez uma reflexão sobre o assunto.

“Quando vemos uma estátua sendo derrubada, temos uma vontade pública que está sendo manifestada. Isso não foi iniciado pelo movimento Vidas Negras Importam, é uma forma política de se manifestar. Isso aconteceu na Revolução Francesa, quando se mudou o calendário, quando memórias do antigo regime foram excluídas e substituídas por símbolos novos; isso aconteceu na chamada Revolução Bolchevique, quando a memória do czarismo foi atacada; e aconteceu em 1992, depois do fim da União Soviética”, afirmou Rivair.

Para o historiador e autor, o ato de derrubar os monumentos tem um significado direto com o que aquela figura representa. “O que está sendo atacado é uma noção de normalidade, é uma noção de consenso, do que é alguém ser dignificado no passado e outros nem serem considerados para tal. Então, nesse sentido, a minha opinião pessoal não é a que importa, o que importa é o significado político que está colocado aí”.

Na visão de Macedo, diante de um movimento social, que atingiu nível mundial, o que deve ser colocado em questão é a memória a ser considerada. “Nesse sentido, valeira a pena pensarmos que esses atos não partem apenas de pessoas negras, ele também vem de pessoas brancas. É o racismo que é o fenômeno a ser atacado. E os defensores do racismo de alguma maneira, assumiram ou assumem um posicionamento público diante desta questão”.

Assista a entrevista realizada com o autor abaixo.

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