Durante todo o tempo a religião é motivo de polêmica e controvérsias para todos. Muitas religiões consideradas únicas e verdadeiras querem levar seus adeptos a uma verdade absoluta evidenciando a cada dia um dilema de guerra santa.Não há diferença quando o assunto é educação X religiões de matriz africana. Ao tratar da divergência de que o candomblé e a umbanda são conceituados como seitas e não religião, transmitindo idéia negativas de maldade e satanismo.
por Edsandro M. Dos Santos via Guest Post para o Portal Geledés
Seria por conta desses conceitos pré estabelecidos que muitos currículos de escolas negam essas religiões? Ou os gestores da educação, coordenadores pedagógicos e por que não falamos também do próprio professor, tenham o medo e o preconceito em dialogar a religião do negro? Apenas visualizar conteúdos básicos em umas pinceladas rápidos da cultura negra, é essa contribuição que muitos dos nosso professores fazem? Levando em consideração temas com focos que são consagrados e que não passa insegurança em debatê-los. Os exemplos a capoeira, o acarajé e o traje de baiana, são tratados como dança folclórica, comida e o traje são típicos do baiano, nem se quer possuem conhecimentos que esses conteúdos não têm nada com a Bahia, são de origem africana.
A escola tem como papel fundamental de formadores de subjetividades, mas agride a fé negra que acredita nas forças da natureza, no poder de uma energia da crença da ancestralidade que são cultuados como Orixás.
Imaginem duas professora da educação básica que no seu primeiro dia de aula recebem cada uma em sua sala um garoto, todo trajado de branco cabeça coberta, colares estranhos em volta do seu pescoço, braços com adereço nos braço feito de palha, cabeça sempre baixa, senta-se no chão no lugar da cadeira e que utiliza as mãos ao invés do tradicionais talheres na hora do lanche.
Uma das professoras não conhecedora dos ritos religiosos africanos tem receio daquela situação e procura a coordenação da escola ou até mesmo a direção para ter entendimento do que se passa com aquele aluno e como conduzir aula com o aluno daquela forma diferente dos outros. A outra professora que é de outra vertente religiosa manifesta de imediato a discriminação a qualquer tipo de representatividade de outras crenças que não seja a sua, e não aceita esse aluno na turma que vai lecionar, pede a coordenação o remanejamento do mesmo para outra turma, por não admitir em sua turma um adepto da “religião do demônio”, sugerindo ate mesmo a sua transferência daquela escola. Essa professora aflige um direito que é concebido ao aluno:
“Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo o ensino, pela prática, pelo culto e pela observância isolada ou coletivamente, em público ou em particular”. (Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)
Como devemos classificar esses dois tipos de fatos diferentes? O primeiro a professora não tem conhecimento e procura a coordenação para ajuda – lá, certamente a professora não foi preparada pedagogicamente para tal situação no que é proposto pela a Lei nº 10.639/96 que alterou a L.D.B. nº 9394/96, determinando a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Acreditamos que não houve um suporte pedagógico para a professora sobre as religiões africanas, ou no mínimo um mini curso de educação continuada no que diz respeito ao assunto.
No nosso segundo registro há um questionamento mais agravante e perguntamos: que tipo de professora podemos classifica – lá? Será que a mesma tem conhecimento da Declaração Universal Dos Direitos Humanos ou da Constituição Federal? Supõe que a professora não tenha conhecimento de fato em diversidade religiosa e suas crença no que diz respeito a educação X religiões de matriz africana.Ou alguém fez o favor de informa – lá que intolerância religiosa é crime?
Cabe a escola não só educar os nossos alunos, mas também conhecer o corpo docente e até mesmo orientá-los. O que vemos são muitos profissionais da educação que estão em sala de aula realmente por profissão, e não como verdadeiros mestres da educação. Muito menos se importam se o aluno é discriminado ou não. Esses profissionais não procuram ter conhecimento de um curso ou estudam sobre diversidade religiosa, até por que: o preconceito domina a mente e essa mente será incapaz de absorver e respeitar a “seita” dos “macumbeiros” como assim falam.
Vivemos em uma nova era em que não, mas existe a regra que; quando professor fala o aluno cala e obedece, não queremos que nossos alunos sejam rebeldes, mas sim, participativos. Em ambos os casos não seria uma aula aquele aluno todo caracterizado daquela maneira? E como seria essa aula? Poderia a professora pedir para o aluno relatar o porquê está vestido daquela forma e o que significará para ele ser adepto da sua religião, certamente seria uma aula rica de conhecimentos multidisciplinar no que se prega a nova escola.
E a escola? Que sempre teve criança, adolescentes e adultos adeptos dessas religiões? Sempre precisaram silenciar, ocultar e omitir sua crença, para não sofrerem perseguição, discriminação, preconceito ou no popular “bullying”. A escola não pode defender ou converter a uma só causa e religião, mas infelizmente nossas escolas possuem uma ação pedagógica que desvaloriza a diversidade religiosa.
Tudo que envolve em torno das religiões de matriz africana em seus espaços “terreiros” é denominado aprendizagem e principalmente quando existe uma escola dentros desses terreiros, tudo é ensinado com a vivencia com a natureza e de forma planejada com um processo contínuo. O desenvolvimento da educação e aprendizagem é regada de mistérios, segredos e ritos, os seus conteúdos são transmitidos de forma oral de geração a geração, sem perder a raiz do povo e da ancestralidade mais com fundamentação na educação do homem branco e seus componentes curriculares.
Assim como na educação formal que é dividida em séries e até a formação universitária, no terreiro funciona da mesma forma. Nas religiões de matriz africana existe várias etapas de aprendizagem divididos em ciclos quem são conquistados por fases ao longo de cada ciclo até a formação do adepto quando ele adquiri o seu diploma, essa graduação não para, pelo o contrario, se prolonga por mais e mais anos,passando de mestres, doutores e muito mais além do que um pós doutorado, se tornando título vitalício.
“o candomblé é um poço fundo de conhecimentos, aprendizagens e segredos, e quem foi até o fundo desse poço, nunca mais retornou para contar os segredos e os conhecimentos existidos que há lá” . Yalorixá Jacira de Yansã
Esse artigo é inspirado na vida do próprio autor, que hoje é Babalorixá com 25 anos de sacerdócio, Mestre em Ciências das Religiões, um pesquisador educando continuo com prática pedagógica pretende da seguimento a um novo projeto de pesquisa sobre o processo de ensino aprendizagem dentro da religiões de matriz africana.
Babalorixá
Acadêmico do 8º Período de Pedagogia
FACULDADE PIO DÉCIMO – ARACAJU-SE