“Enfermeiro chorou”: projeto faz protetor facial para agentes da periferia

FONTEPor Tamires Rodrigues, do UOL TILT
Agentes de saúde do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, utilizam as máscaras fabricadas pelo campanha Favela Maker (Divulgação/ Periferia Sustentável)

O Lab Periferia Sustentável, um laboratório de tecnologias sustentáveis, está apostando na fabricação e doação de máscaras do tipo face shield (protetor facial) para fortalecer o trabalho de agentes de saúde que atuam em bairros no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Através da campanha “Favela Maker”, pautada na mobilização de doadores de matéria-prima, a iniciativa já conseguiu produzir e doar mais de 350 máscaras para profissionais de saúde e líderes comunitários que estão na linha de frente do combate ao covid-19.

No mirante da favela do Jardim Nakamura, na zona sul de São Paulo, o Instituto Favela da Paz mantém há mais de 20 anos um espaço sociocultural com diversos projetos que difundem novas culturas de educação, preservação do meio ambiente, produção musical, alimentação e novos paradigmas de relações humanas e produção de energia.

Um dos projetos que cumpre esse objetivo é o Lab Periferia Sustentável, iniciativa que pesquisa, desenvolve e difunde experiências com tecnologias open source à base de energias renováveis, como a biodigestão, energia solar e a permacultura. Durante a pandemia de coronavírus, o projeto se transformou em um polo de apoio aos profissionais de saúde que atuam em bairros na região do Jardim Ângela.

Inspirado pelo poder transformador das tecnologias open source, o músico e inventor Fabio Miranda, 41, morador do Jardim Nakamura, responsável pela criação do Lab Periferia Sustentável, olhou para a sua impressora 3D e a máquina de corte a laser e decidiu produzir máscaras de proteção facial (face shield) para fortalecer o trabalho de enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde e promoção do meio ambiente, profissionais que estão na linha de frente do combate ao covid-19 nos territórios periféricos.

“A inspiração veio desse movimento maker, essa rede colaborativa que hoje é o ‘faça você mesmo’ e está aberta para todo mundo. Foi dessa forma que eu acessei a rede, e a gente começou a produzir essas máscaras e, assim, conseguir realmente trazer um apoio e segurança para os profissionais da saúde”, diz o inventor.

Miranda usou sua habilidade para pesquisar e criar soluções para ajudar profissionais que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região. O ponto de partida foi um projeto de cultura maker chamado Espaço MeViro, que disponibilizou em sua redes sociais e site um arquivo aberto para quem quiser e tiver cortadora a laser produzir máscara no formato face shield.

Como já tem a cortadora a laser no laboratório, Miranda e amigos criaram a campanha “Favela Maker” para captar doações de matéria-prima –como placas de petg, placas de acrílico 3mm e rolos de elástico de 9mm– para iniciar a produção das máscaras.

A iniciativa já distribuiu mais de 350 unidades de máscaras de proteção facial para agentes de saúde que atuam em cinco Unidades Básicas de Saúde da região. Como critério de seleção, a campanha selecionou os postos públicos de saúde que apresentam mais desfalques no estoque de equipamentos de proteção individual.

“Já teve situação de enfermeiro chorar e agradecer pelo apoio. Acho que é isso, você colocar a cabeça no travesseiro e falar: caramba, ganhei meu dia hoje com aquele profissional”, diz Miranda.

Reação dos profissionais de saúde

“Sentimento de gratidão foi o que a equipe sentiu com o recebimento desta doação”, afirma Alexandre Neves, responsável pela área de promoção ambiental do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS/CEJAM), na Unidade Básica de Saúde do Jardim Nakamura. Segundo ele, os profissionais consideraram de “ótima qualidade” os equipamentos de proteção individual que foram doados.

Neves atua como articulador nas Unidades Básicas de Saúde do Jardim Ângela, construindo parcerias com catadores de materiais recicláveis e realizando o acompanhamento de casos de notificação pela Suvis (Supervisão de Vigilância em Saúde), em institutos, escolas, igrejas e serviços comunitários de assistência social, como o Centro para Crianças e Adolescentes (CCA) e o Núcleo de Convivência de Idosos (NCI).

Para Neves, a iniciativa da Favela Maker não está apoiando somente enfermeiros e médicos, mas também todos o profissionais que contribuem fazendo um trabalho educacional no território durante a pandemia, orientando sobre os cuidados em relação ao combate ao covid-19.

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