Em 2015, as crianças chilenas conhecerão a história de Nicolás, um menino que vive em uma família formada por casais homossexuais. Ele mora com os dois pais, Sebastián e Pablo, embora também passe alguns fins de semana com Clara, a mãe biológica. Florencia, a melhor amiga no colégio, não entendia a família de Nicolás, mas, com o tempo, a aceitou, e eles passaram a frequentar a casa um do outro.
Por Victor Farinelli, de Santiago para a Opera Mundi
Assim é o conto “Nicolás Tiene Dos Papás” (“Nicolás Tem Dois Papais”, com texto de Leslie Nicholls e ilustrações de Roberto Armijo), um livro infantil criado por iniciativa do Movilh (Movimento pela Integração e Liberação Homossexual) e patrocinado pelo governo chileno. A publicação será distribuída gratuitamente e fará parte do currículo do ensino infantil e fundamental públicos do Chile no ano que vem. As instituições particulares que quiserem também podem solicitá-la de forma gratuita.
A história de Nicolás é apenas a primeira de uma série de contos infantis com temas de diversidade sexual que serão lançados nos próximos meses, também com patrocínio estatal e distribuição gratuita.
A cerimônia de lançamento do livro contou uma versão teatral da história, por conta da companhia “La Negra María”, que também fará a apresentação do livro em escolas da capital chilena, nos próximos dias. Segundo o porta-voz do Movilh, Óscar Rementería, existe um projeto de levar a história de Nicolás a uma linguagem audiovisual. “Não sabemos ainda se um filme comum ou de animação, mas tudo vai depender do sucesso do livro”, diz.
Protesto
Um pouco antes do encerramento do evento, uma mulher (que não quis se identificar, mas dizendo falar em nome da comunidade evangélica chilena) entrou no auditório onde acontecia a solenidade acusando a iniciativa de discriminar aqueles que pregam “o respeito à Bíblia”.
“Como posso ensinar ao meu filho que ele também merece respeito por acreditar na palavra de Deus, se somente quem pensa diferente dele tem apoio do governo?”, questionou a mulher, que se surpreendeu ao ter seu discurso aplaudido pelos presentes. Durante as palmas, um representante do Movilh se aproximou e lhe ofereceu um livro, que ela aceitou, antes de deixar o recinto.
Minutos antes dessa intervenção, Rafael Dochao, embaixador da União Europeia no Chile, também relatou que, devido ao apoio do organismo à iniciativa chilena, recebeu mais de 600 mensagens de protesto em menos de uma semana.
A principal acusação dos que se opõem ao livro é a de que ele seria uma forma de “propaganda para as crianças” sobre orientação sexual, argumento que é rechaçado pelo presidente do Movilh, Ramón Gómez. “O livro visa contribuir para formar uma geração que tenha outra visão sobre as famílias homoafetivas e defende o respeito pelas diferentes formas de família. Ele não trata da questão sexual. Por isso, é difícil entender esse tipo de reação”, comentou.
Em 2011, o governo do Brasil suspendeu a divulgação de um kit anti-homofobia nas escolas após pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional. O material era composto por vídeos, cartazes e um caderno para professores com o objetivo de tratar o tema do preconceito contra homossexuais e transsexuais no ensino público.
Fonte: Vermelho