Ex-aluno do Porto Seguro pede apoio da Alemanha após racismo

Em carta enviada à agência responsável por escolas alemãs no exterior, advogado brasileiro solicita que órgão exija providências do colégio. Alunos trocaram mensagens racistas e de conteúdo nazista em grupo.

Agência responsável por escolas alemãs no exterior é ligada ao Ministério do Exterior da Alemanha (Foto: Daniel Kalker/picture alliance)

Um ex-aluno do Colégio Visconde de Porto Seguro em Valinhos, no interior de São Paulo, enviou nesta quinta-feira (03/11) uma carta à agência do Ministério do Exterior da Alemanha responsável por escolas alemãs em outros países denunciando o caso de racismo que ocorreu na instituição e pedindo que o órgão exija da escola uma estratégia para lidar com a situação e de prevenção.

O caso ocorreu no domingo, após o resultado das eleições, quando um aluno negro, de 15 anos, foi adicionado a um grupo no WhatsApp chamado “Fundação Anti Petismo”. No grupo com mais de 30 participantes, os estudantes trocam mensagens racistas, homofóbicas e de conteúdo nazista, além de compartilhar imagens e frases de Adolf Hitler e Benito Mussolini.

No grupo, os alunos defenderam a morte de nordestinos, a “reescravização do Nordeste” e organizaram uma manifestação golpista contra o resultado das eleições, programada para ocorrer no colégio no dia seguinte. Ao ver uma publicação com a imagem de Hitler e os dizeres “Se ele fez com judeus, eu faço com petistas”, o estudante negro alertou que aquilo era crime e foi bloqueado. Ele sofreu posteriormente ataques racistas no Instagram.

Na carta enviada à agência alemã, o advogado brasileiro Frederico Reichel pede que medidas sejam tomadas rapidamente. “As reações da escola até agora não deram a devida importância e podem ser resumidas como um distanciamento geral sem conteúdo. Isso é inaceitável por parte de uma escola que recebe diretamente subsídios e professores da Alemanha”, afirma Reichel, que foi aluno do Colégio Visconde de Porto Seguro de 1990 a 1998.

O advogado ressalta que uma escola de alunos de classe alta não poderia privilegiar ainda mais seus estudantes só para preservar a sua reputação institucional. “Por isso, peço encarecidamente que a agência exija do colégio uma estratégia clara para lidar e prevenir tais incidentes”, finaliza a carta.

Além da carta, ex-alunos do colégio fizeram ao menos um abaixo-assinado e uma carta aberta pedindo a apuração dos fatos e que a direção do colégio não se omita diante das graves denúncias. “Instituições que se eximem do combate ao racismo, à misoginia e ao discurso de ódio minam as bases de qualquer processo de ensino e aprendizagem. Essa omissão permite que um espaço de cuidado e acolhimento transforme-se em um território de medo e intimidações”, destaca um dos textos.

A carta aberta pede a responsabilização dos alunos envolvidos no episódio, o apoio da escola a vítimas de racismo no ambiente escolar, a criação de um grêmio antirracista e a adoção de cursos para a prevenção do racismo.

Posição da escola

Depois do episódio no WhatsApp, alunos do colégio também protagonizaram um protesto no interior da instituição contra o resultado das eleições. Durante o ato, eles xingaram o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seus eleitores.

A mãe do aluno que foi vítima de racismo denunciou o caso às autoridades. A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as denúncias.

Em nota, o Colégio Visconde de Porto Seguro afirmou que, no presente momento, pequenos grupos “estão se excedendo, infelizmente, em suas manifestações e atitudes, de forma polarizada e muitas vezes conturbada”.  A escola disse estar ciente sobre as “mensagens desrespeitosas” que foram publicadas e que contribuirá com a averiguação do caso.

O colégio afirmou repudiar “qualquer tipo de atitude ou manifestação ofensiva ou discriminatória” e estar comprometido “em construir uma sociedade livre de preconceitos”. O texto pede ainda que os pais monitorem as redes sociais dos filhos, os orientem sobre o respeito e lhes expliquem que “certas ações são passíveis de sanções legais”.

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