A marca de roupas Farm apresentou a sua nova coleção inspirada na cultura negra para o inverno 2015, Black Retrô. Segundo a diretora criativa, Katia Barros, a coleção foi pensada numa forma de reconhecimento à cultura negra que faz parte da história do Brasil. “A coleção foi pensada sobretudo pra reconhecer a beleza e a elegância da cultura negra. A ideia de trazer o retrô dentro da cultura black é resgatar a elegância do passado, é um resgate à memória”.
Os responsáveis pelos cliques foram os fotógrafos Raphael Lucena e Carol Wehrs, que retrataram verdadeiras obras de arte. Parte da coleção foi fotografada nos Lençóis Maranhenses. “Lençóis trouxe uma estética de arte e fotografia muito precisa nessa campanha, além disso, o lugar tem uma natureza exuberante e uma paisagem que muitas vezes fica monocromática, pois podemos ver só o branco da areia ou o azul do céu e das águas, diferentes visões que fazem toda a diferença”, explica Katia e Carlos, diretor de branding.
A coleção está realmente linda, é de encher os olhos. Mas há ainda algo que nos incomoda quando o assunto é mulher negra e a moda. Apesar dessa iniciativa, a Farm esteve envolvida com um recente caso de apropriação cultural e racismo ao postar em seu Instagram uma foto de uma modelo branca vestida de Iemanjá, símbolo de religiões de matrizes afro. O caso teve grande repercussão, pois o cantor de rap Emicida criticou a postura da marca na foto divulgada.
Além desse episódio, a Farm não é uma marca conhecida por retratar negras em sua coleção, por isso fica a dúvida se o objetivo é realmente o de inclusão da cultura negra. Acreditamos que iniciativas como essa sejam interessantes, mas enquanto não existirem mulheres em coleções diversas de marcas como a Farm, o racismo ainda será uma marca do universo da moda. Afinal, mesmo que presente, a mulher preta em geral é escolhida para ensaios temáticos e específicos, mas não é integrante desse universo.
A falta de representatividade da mulher negra na moda é alvo da crítica da estudante de 22 anos, Victoria Madeiro. Victória cursa Produção de Moda no Senac, unidade Lapa Faustulo, e acredita que essa coleção não é suficiente. “Eu quero gente preta em todas as coleções, porque gente preta também é gente e deve ser representada no verão, no inverno, na primavera e no outono”.
Para a Black Retrô, a Farm alega que sentiu a necessidade de fazer uma coleção com a temática África desde que fizeram sua primeira viagem de pesquisa para o continente. Mas afinal, o que é a África? Quais países foram visitados, qual é a peculiaridade de cada cultura em que entraram em contato? Tratar a África como um só país não é só um erro das marcas de roupas, mas esse conceito de uma África distante e única é amplamente utilizado em editoriais de moda. Para a estudante de Arquitetura e Urbanismo da PUC de Campinas, Stephanie Ribeiro, é um absurdo a maneira como retratam um continente tão rico e diverso como África. “O negro em geral, no Brasil ou no continente Africano, ele tem sempre uma história única e consequentemente só é representado quando é interessante em determinado contexto”, critica.
A beleza negra é sempre retratada pelo viés da diversidade, entretanto, é preciso que seja cada vez mais a regra de um contexto estético e político para que possamos avançar nas representações da negra sem cair na reafirmação de estereótipos.
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