Fenômeno China pode estar com dias contados, diz estudo

Produção industrial, vendas do varejo, investimentos em capital: não importa para onde você olhe, os dados econômicos da China mostram enfraquecimento.

A situação está longe de ser dramática – afinal, o crescimento ainda deve ficar próximo da meta do governo de 7,5% este ano e os analistas continuam prevendo uma taxa alta por no mínimo mais uma geração. O milagre chinês simplesmente atingiu um “novo normal”, nas palavras do presidente Xi Jinping.

Não de acordo com um novo estudo de Lawrence Summers e Lant Pritchett, da Harvard Kennedy School, publicado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica em outubro.

Eles argumentam que uma euforia excessiva com o sucesso de China e Índia nas últimas décadas levou analistas a projetar um crescimento equivalente para os anos vindouros.

O problema é que os modelos estatísticos com base na história mostram que a regra é outra: o crescimento alto, depois de um tempo, tende a voltar para a mediana.

Em outras palavras: não dá para esperar que o crescimento futuro vai continuar olhando só para o crescimento do passado, como se tem feito. Se a história tem algo para mostrar, é que a China ainda vai desacelerar – e muito:

“Por que? Basicamente, porque é isso que acontece com crescimento rápido”, disparam os autores.

Este fenômeno é especialmente verdadeiro no caso de países em desenvolvimento, onde o mais comum são ciclos de forte crescimento com paradas (e regressões) bruscas. Os países desenvolvidos atingiram a riqueza não porque cresceram em surtos, e sim porque viveram longos períodos de expansão moderada e constante.

Eles sabem do que estão falando: Pritchett é um veterano do Banco Mundial e Summers já foi Secretário do Tesouro Americano, além de diretor do Conselho Econômico Nacional de Obama no auge da crise financeira – outro episódio que pegou de surpresa (quase) todo mundo.

“Muitos dos grandes erros econômicos de previsão dos últimos 50 anos vieram de extrapolar a performance de um país no passado recente, tratando a taxa de crescimento como uma característica permanente e não uma condição transitória”, diz o texto.

No auge da União Soviética e do Japão, por exemplo, não faltavam previsões sobre como eles eventualmente dominariam a economia global. O resto é história. Outro exemplo citado é o brasileiro:

“De 1967 a 1980, a economia brasileira cresceu 5,2% ao ano. Enquanto muitos podem ter identificado desequilíbrios macroeconômicos e estruturais que colocavam aquele crescimento em risco de recessão ou desaceleração cíclica, ninguém em 1980 poderia prever que pelos próximos 20 anos – de 1980 a 2002 – o crescimento per capita seria quase exatamente zero.”

Números

Para Summers e Pritchett, prever o crescimento da China e da Índia é hoje “a questão dos 42 trilhões de dólares”. Este é o valor da diferença entre o PIB somado dos dois países em 2033 considerando um crescimento médio de 7% ao ano (a previsão otimista) ou de 2% (a previsão feita pela regressão histórica).

Eles reconhecem que o tamanho de Índia e China – cada uma com mais de 1 bilhão de habitantes – e a longa duração do boom atual já são fatores muito fora da curva:

“A experiência chinesa entre 1977 e 2010 já tem a distinção de ser a única vez, possivelmente na história da humanidade, mas certamente a única documentada, de um episódio sustentado de crescimento super rápido (acima de 6%) por mais de 32 anos”.

Mas na melhor das hipóteses contempladas pelo que sabemos da história econômica até agora, o crescimento cairia para 5% por ano para China e 3,8% para Índia na próxima década – ainda bem abaixo do consenso atual.

Sobre os processos que poderiam fazer isso acontecer na prática, eles citam instituições, corrupção e as dificuldades de uma transição democrática, mas a mensagem central é que na verdade, não importa: desaceleração é a regra, não a exceção. Por enquanto, os futurólogos de plantão fariam bem em passar a escrever suas previsões de crescimento para a China em lápis.

 

 

Fonte: Exame

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