Fica o aviso: a juventude não dá bobeira para ideias retrógradas e criminosas

“Piranha!”
“Viado!”
“Macaco!”

A ofensa esbofeteou e saiu às pressas do armário. O País atravessa o período onde o xingamento gratuito, que violenta e agride, abandonou as saias civilizadas da tolerância social para ganhar corpo – e voz – nas discussões. O debate, muita das vezes, dá vez ao monstro do preconceito. É a homofobia, a misoginia, o racismo e o ódio histérico.

por  no Brasil Post

Faço deste texto um abraço solidário às estudantes Gabrielle D’Almeida e Mel Gomes, agredidas na última semana no seio de uma das instituições acadêmicas mais reconhecidas no Brasil, como a Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Foi lá que, absurdamente, Gabrielle e Mel foram alvo de ofensas sexistas e racistas por um professor, dirigente – pasme – da associação de docentes.

entenda o caso: Estudantes acusam professor da UFF de machismo e injúria racial 

O episódio sofrido pelas jovens revela como a intolerância se manifesta em espaços como o da UFF. Palco da diversidade, as universidades encaram hoje o desafio de agregar toda a nossa pluralidade social, revelada em formas de vestir, tipos de cabelo, cor de pele, jeito de se manifestar e ser. É da existência dessa mistura que os mais brilhantes profissionais e seres humanos são formados e transformam.

A realidade é angustiante. Num país em que 15 mulheres e 60 jovens negros são assassinados por dia, e um homossexual a cada 28 horas, não há a mínima possibilidade de que agressões passem impunes, sem a devida investigação e punição das instituições acadêmicas, das polícias e da Justiça.

Quando a morte não é fruto da ação de terceiros, ela vem do rasgo na alma de suas vítimas. O suicídio juvenil é uma teia dramática que existe e precisa ser entendida para ser combatida. Em duas décadas, o país viu essa realidade crescer em 30%, algo duro e chocante, como um alerta vermelho para todos nós. O preconceito social não pode ser um gatilho para o fim das próprias vidas.

Essas instituições acadêmicas, seja de qual nível de escolaridade for, têm o dever de zelar pela paz social de seus estudantes. A mesma coisa deve ser feita pelos governos, criando e promovendo como Estado campanhas de conscientização, mostrando que somos diferentes, inclusive na forma como vemos o mundo. Ao Parlamento, cabe tomar coragem e criminalizar a homofobia, por exemplo.

Gabrielle e Mel levaram sua voz adiante, sem recuar diante das hostilidades de um professor. Poderia ser em qualquer lugar: no banco da praça, dentro do cinema ou num bar. É importante mostrar que as estudantes não se omitiram e procuraram as instâncias cabíveis para denúncia. E até mais do que isso ao não se deixarem calar.

Por isso, fica um aviso a todos os preconceituosos e propagadores de intolerância. A juventude que vem por aí não dá bobeira para as ideias retrógradas e criminosas de alguns setores da sociedade. Beijinho no ombro pro ódio de plantão.

Nota da editora: o professor em questão publicou uma nota sobre o ocorrido. Leia aqui.

Sobre os acontecimentos em 15/07/2015 na reitoria da UFF – Nota do Professor André Guimarães Augusto

 

A seguir, a pedido do professor André Guimarães Augusto, publicamos a nota redigida por ele a respeito dos acontecimentos de ontem (15), ao final de ato unificado nos jardins da reitoria da UFF

“Sobre os acontecimentos em 15/07/2015 na reitoria da UFF

Venho aqui pedir publicamente desculpas para a estudante Gabrielle D’Almeida, o que já  fiz diretamente a mesma no momento do ocorrido, e a todas as mulheres símbolos e inspiração de uma luta cotidiana, por palavras mal colocadas em uma situação adversa. Vivemos tempos difíceis e duros e em determinados momentos esquecemos de quem somos, as vezes em uma palavra solitária.

Sinal dos tempos que vivemos também são as acusações sem prova, o julgamento prévio e o linchamento moral. Nesse sentido rechaço veementemente a acusação de injúria racial e também as tentativas de agressão física a minha pessoa por parte dos estudantes do DCE, impedida pela ação de outras pessoas.

Uma palavra pode por vezes dar um mal entendimento de todo uma militância, uma luta, um trabalho e uma vida pessoal. Eu jamais poderia conscientemente ser veículo de transmissão de qualquer forma de opressão por minha condição sexual, sendo não só eu mesmo vítima cotidiana de opressão contra os LGBT como carrego sequelas físicas advindas de agressão homofóbica”.

-+=
Sair da versão mobile