Figurinista carioca faz sucesso em festival de ópera na Alemanha

FONTEPor Carolina Marques, do Ego
Adriana Braga Peretzki criou todos os figurinos do maior festival de ópera da Alemanha (Foto: Imagem retirada do site Ego)

Adriana Braga Peretzki é aquela típica carioca que não pode ouvir um batuque que já cai no samba. Criada no Rocha, subúrbio do Rio de Janeiro, coladinho ali na quadra da Mangueira, ela não passava um fim de semana sem requebrar ao som da verde e rosa. Anos mais tarde, Adriana não imaginaria trocar a bateria de uma escola de samba pelas árias de uma ópera. Mas é nesse tipo de espetáculo que tornou-se referência. Adriana é hoje uma das mais importantes figurinistas da Alemanha e mostra ao que veio no “Bayreuther Festspiele”, festival anual de ópera onde são apresentadas apenas obras de Richard Wagner, considerado o maior evento do gênero no país, que começou nesta quinta-feira, 25 e vai até o dia 28 de agosto.

Para se ter uma idéia de como os alemães prestigiam ópera, um ingresso pode custar cerca de R$ 25 mil, e pode-se ficar numa fila de espera de até cinco anos por um destes. “Estou fazendo os figurinos dessas óperas porque trabalho há dez anos com Frank Castorf, que é considerado o maior diretor de teatro alemão vivo. Ele é respeitadísismo na Europa e este ano foi convidado para dirigir as quatro óperas épicas de Wagner, ‘Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo)’, que quase nunca são encenadas juntas, como o Wagner queria, pois são muito longas”, explica Adriana, que além de moda e figurino é formada em Letras pela UFRJ.

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Figurinos de ópera criados por Adriana, que está na Alemanha há 22 anos (Foto: Divulgação / L-P Lorentz)

Filha de um PM e de uma professora, desde criança Adriana gostava do espetáculo. E se Joãozinho 30 dizia que a escola de samba é a ópera do povo, a carioca – e mangueirense por devoção – é um exemplo vivo de que as duas artes andam bem juntas. Não perdia um ensaio da Verde e Rosa e, com tanto remelexo, a mulata acabou sendo dançarina do Funk em Lata, capitaneado por Ivo Meirelles, de quem é amiga. Foi ainda na quadra que Adriana conheceu o ex-marido, um alemão de origem polonesa, que a levou para siua terra natal, e com teve duas filhas. “O samba é uma parte fundamental da minha vida e da minha formação. Me lembro de estar brincando na vila onde nasci, onde minha mãe mora até hoje, e ouvir pelas janelas samba tocando. Cada casa tocando uma música diferente”, recorda.

Um ingresso para um espetáculo de ópera de Wagner pode custar R$ 25 mil (Foto: Divulgação / L-P Lorentz)

Já com o diploma na bagagem e apaixonada por moda, Adriana decidiu cursar figurino na Alemanha. “Resolvi por causa da literatura e das pesquisas históricas. É fabuloso descobrir os motivos pelos quais as pessoas se vestiam – ou se vestem – de uma determinada maneira. A psicologia da vestimenta”, conta. A ópera entrou na vida dela quase que por acaso: “Só descobri depois que o teatro alemão tem uma das melhores infraestruturas do mundo, quando já estava no meio. Aqui todo teatro tem seu próprio ateliê de costura e equipe de profissionais”.

A chanceler alemã Angela Merkel e o marido chegam à abertura do festival (Foto: Reuters)

Apaixonada por carnaval, após dez anos sem curtir a folia, Adriana esteve no Rio de Janeiro este ano para ir ao sambódromo. E, mesmo radicada há 22 anos na Europa, não descartaria uma incursão como carnavalesca. “Adoraria! Para quem já fez tantas peças com figurinos e enredos diferentes, acho que não seria tão difícil desenvolver um enredo de escola de samba. Adoro pesquisas históricas, literatura paralela e as biografias de grandes escritores clássicos. Claro que precisaria de um parceiro para me ajudar no mecanismo de uma produção desse porte. Cada país tem o seu jeito de trabalhar. Nesse aspecto, sou totalmente inexperiente, mas ao mesmo tempo é isso que me fascina em cada trabalho novo, o desafio”.

Foto em destaque: Reprodução/ Ego

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