Gaby Amarantos ama usar turbantes: “Eu me sinto mais negra, bonita e poderosa”

FONTEPor Larissa Santos, Do IG
Gaby Amarantos (Foto: Gabryel Sampaio/Divulgação)

“Ah, que isso, elas não estão descontroladas! Elas são feministas, estão empoderadas, elas não estão descontroladas!”. A versão atualizada do clássico funk carioca fez parte de um show diferente comandado por Gaby Amarantos, na última edição da Virada Cultural, em São Paulo. O Juranas no Sistema é um projeto paralelo da cantora paraense, que cada vez mais está voltada para o resgate de sua ancestralidade. Uma prova disso, são os turbantes que ela faz questão de usar e abusar.

Em bate-papo com o iG, Gaby conta que usa turbantes desde criança, mas sem ter a noção de sua importância. “[Era] aquela coisa que a mãe amarra o pano na cabeça. Mas passei a ter acesso aos tecidos africanos e a entender o sentido do turbante. Hoje, ele não é só um acessório de moda. Ele vai além”, explica.

“É um símbolo de resistência. É a minha coroa de mulher negra e quando eu coloco um turbante eu me sinto mais negra, mais bonita, aceito mais as minhas raízes e ele me faz me sentir poderosa. Como se eu falasse para a sociedade que sou negra e sou capaz de vencer e estou aqui para brilhar. Hoje eu acho que existe um resgate geral que o turbante está fazendo na vida das mulheres brasileiras.”

Além do turbante, Gaby também assumiu seus cabelos crespos e isso elevou muito sua autoestima. “Eu gosto de mudar, mas confesso que estou em um momento de orgulho e me achando uma mulher bonita. Até eu achava feio [cabelo crespo], antigamente, porque a sociedade me fazia acreditar nisso – sofri muito bullying quando era criança e chamavam de palha de aço”, lembra.

“Sofri muito bullying quando criança e me chamavam de palha de aço”

Tudo o que tem aprendido e descoberto sobre ela mesma, a artista faz questão de repassar para a família. “A minha sobrinha de 10 anos tem o cabelo parecido com o meu, quando criança. E eu sempre digo a ela que o cabelo é lindo, maravilhoso e ninguém na escola tem um cabelo mais bonito que o dela. Quando eu era criança não tinha isso.”

Mas a paraense não quer que sua luta limite-se à ela ou seus familiares – quer que todas as mulheres conquistem juntas e, para isso, garante que quer ser “uma das formiguinhas a contribuir”. “Eu sua uma mulher que luta pela igualdade de gêneros. Não quero que a mulher seja mais, nem menos. Quero que ela seja igual e que tenha o seu valor e que a sociedade a valorize”, afirma.

Na entrevista a seguir, Gaby Amarantos fala mais sobre o seu novo projeto e o que podemos esperar dos próximos trabalhos.

iG: Por que você decidiu criar um show voltado mais para a música negra?
Gaby Amarantos: Este projeto paralelo, Jurunas no Sistema, nasceu de uma forma muito natural. Há muito tempo que eu já queria criar um projeto para extravasar mais o meu lado criativo de produção musical. Até que recebi o convite para a Virada Cultural para fazer um show diferente. Foi quando pensei neste projeto que dialoga com todos os sons, de todas as periferias e todos os Jurunas do mundo. Eu tinha essa ideia há 25 anos, mas nunca conseguia tempo para fazer. Agora é uma boa hora para mostrar um projeto cultural, que tem tudo a ver comigo e com o meu trabalho.

iG: Quais foram suas influências para esse show?
Gaby Amarantos: Tem influências e sons da periferia do mundo. Assim como no Brasil, que a gente tem o tecnobrega, um som que nasceu na periferia de Belém, no bairro do Jurunas, onde nasci, a gente tem também o funk, o reggae das radiolas do Maranhão… Enfim, tem vários sons de periferia que são do Brasil e tem também pelo mundo. Estes estilos periféricos, que são feitos de lugares parecidos de Jurunas, é que foram a principal influência, misturando também com este meu lado de música negra e indígena e com a essência do Pará, uma conexão bem direta.

iG: O que o público encontra a mais nesse show do que nos da sua turnê?
Gaby Amarantos: É um show para quem curte música e quer dançar, pular e se conectar com o música eletrônica. É para quem gosta de música, independente se é um hit ou não. É um show mais autoral, versões divertidas também de músicas que são conhecidas no mundo, mas com uma linguagem mais eletrônica.

iG: O que podemos esperar do seu novo álbum? Há algo que possa adiantar?
Gaby Amarantos: Estou preparando tanto um EP para o Jurunas no Sistema, com músicas novas, como para o meu trabalho Gaby Amarantos, como cantora e compositora, também. Os dois eu componho. Vou fazer músicas que vão muito mais pro lado popular, mostrando para as pessoas o meu lado romântico e também de festa, trazendo para o Brasil novas propostas de música para dançar. Como eu fiquei muito tempo sem lançar nada novo, por conta do que aconteceu com a minha mãe, eu vou agora reunir tudo o que estou fazendo e lançar tudo.

iG: O seu estilo musical mudou bastante desde os primeiros trabalhos. Quais influências te inspiram na hora de fazer uma música?
Gaby Amarantos: Mudou, sim, e eu acredito que eu sou uma artista muito estudiosa que gosta de saber as tendências tanto mundiais, como o que está rolando no Brasil. Gosto sempre de inovar e encontrar formas de me conectar. Para este meu segundo CD, é o que está rolando no Brasil. Vai ter um lado de Gaby mais compositora porque todas as músicas são minhas e de parceiros. Eu quero me lançar mais popular, mais radiofônica e estar mais nas casas das pessoas. Eu quero estar mais no som do carro, nas festas e presente no dia a dia e no cotidianos. O meu foco de carreira hoje é somente música, música, música.

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