Inversão de sentidos – Por Cidinha da Silva

Escritora Cidinha da Silva (Foto: Elaine Campos)
Ela considerava aquele o dia dela. Eu movia rios e montanhas para estar com ela, porque era algo muito importante para sua localização no mundo.
Um dia ela se foi e, deliberadamente, esqueci que o dia das mães existia. Permiti a mim mesma a liberdade de não felicitar ninguém pelo marco ocidental do comércio de afetos, nem mesmo as mulheres caras a mim, para as quais a maternidade era algo fundamental.  Livre, libertada, liberta da opressão sentimentalista do dia das mães, me tornei.
Veio um dia novo e voltei a me lembrar que havia um domingo em maio dedicado a elas. Conheci uma mulher que perdera o filho ao nascer, cuja mãe telefonava no dia das mães para lembrá-la de que tinha sido mãe um dia e aquele era o dia dela também.
Veio o mais novo dos dias, aquele em que conheci a mulher que me ensinaria a ser mãe, a que mais admirei, venerei pelo amor e pela tenacidade, pela certeza da escolha, pelos filhos íntegros e belos que educou. O princípio e o fim dentro de casa, na própria prole, Exu e Oxalá, como ela dizia.
Mas ela desistiu de tudo e só restou no ar, no lugar dos “parabéns pelo dia das mães”, do meu tempo, o “feliz dia das mães”, de hoje.
por Cidinha da Silva
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