Já nasci morto

Já nasci morto

Alison Sodrè, jovem de Salvador, publicou em seu perfil no facebook, este grito de socorro que milhares de jovens negros gritam no Brasil e não são escutados. Viram apenas notícias de jornais, publicadas nas páginas de crime, como bandidos mortos por resistência às autoridades policiais. Alison Sodré tem a solidariedade da Rede Rádio Mamaterra e do Sos Racismo Brasil, além de todos que manisfestaram sua solidariedade e repúdio à arbitrariedade policial que sofreu, próximo à sua casa. Pela redação, Marcos Romão

Pois é …

Eu, Alison Sodré de Santana, jovem negro e morador do centro da cidade de salvador, mais precisamente morador do antigo Maciel Pelourinho. Tenho hoje minha morte decretada? Isso mesmo !!! Minha morte cívica, moral, étnica e quem sabe depois desse relato carnal!

Sabem por quê?

Hoje dia 30 de outubro de 2014, por volta das 11h e 45 mim, no bairro onde nasci sou respeitado e minha família é uma referência de resistência, símbolo da luta contra a opressão, fui agredido verbalmente, psicologicamente e por um triz quem sabe não tive uma lesão grave (até porque as armas são letais).

Um Policial Militar em serviço da sociedade (pelo menos era isso que deveria ser) senhor também negro, com um pouco mais de 1m e 85 cm, travestido de policial, colocou uma arma em minha cara, em plena a luz do dia.

Tudo isso ocorreu porque estava ao telefone distraído e coloquei meu pé direito para apoiar meu corpo na parede de uma janela na companhia de meu irmão Andre André Pedro Grillo quando o mesmo se dirigiu a mim com o dedo no rosto e disse:

Ta vendo o Policial falar não?

Eu respondi desculpe senhor mais estava ao telefone e logo em seguida retirei meu pé do apoio.

O mesmo enfurecido retrucou? Respeite autoridade apontado o dedo na minha cara e gritando.

Eu senhor para quer isso? Fale baixo, não precisa essa truculência!

Nesse momento, vi minha vida diante dos meus olhos, acuado pela introspecção militar e por ter uma arma em minha direção! Nessa hora, não sabemos o que fazer como agir e como tentar conter tal brutalidade… Se eu morador de um ponto turístico visitado por milhões de pessoas todo ano, tive um revolver apontado para mim, imagine um jovem negro da periferia, vivendo em condições subumanas, aonde as políticas sócias não chegam e onde são as maiores vitimas das ações polícias?!

É meu nobre, sou NEGRO de origem pobre, estudante das ciências jurídicas, responsável pela política racial de juventude negra do meu município, mais precisamente a Secretaria Municipal da Reparação, fui coagido, humilhado perante a minha comunidade, minha família, moradores locais e comerciantes, imagine nossos jovens periféricos!

Até quando esse abuso de poder vai permear nossas vidas?

Até quando teremos que nos calar para não temermos por nossas vidas?

Até quando iram matar nossos jovens para haver um trabalho de conscientização e humanização dos policiais militares ? (Detalhe o pior não aconteceu porque meu pai que também é militar por minha sorte apareceu e conteve a situação).

Posso a partir de hoje não ver isso acontecer, mais pode ter certeza se é para morrer como homem, vou com dignidade!

 

Fonte: Mamapress

-+=
Sair da versão mobile