Léa Garcia chega aos 90 anos como tataravó e se recuperando de queda: ‘Agora, só faço o que for me satisfazer’

FONTEExtra, por Danilo Perelló
A atriz Léa Garcia - Foto: Leo Martins / Agência O Globo

É dia de festa para a cultura brasileira! Se em breve, com a estreia da nova trama das seis, “Amor perfeito”, todas as novelas da Globo terão protagonistas negros, nada disso seria possível se, lá atrás, não existisse uma atriz como Léa Garcia, que neste sábado completa 90 anos de vida. Desses, mais de 70 são dedicados a atuações no teatro, no cinema e na TV, com personagens marcantes como Serafina, no longa “Orfeu Negro’’ (1959), em que concorreu ao Cannes, e a vilã Rosa, de “Escrava Isaura” (1976). Basta observar qualquer post seu nas redes sociais para ver artistas negros exaltando sua grandeza.

Foi mantendo-se sempre ativa e atuante, no entanto, que infelizmente ela sofreu um baque, o que vai impedi-la de comemorar o aniversário hoje como gostaria. É que em dezembro, o cansaço por manter tantos compromissos fez com que ela sofresse uma queda enquanto fazia a peça “A vida não é justa”, fraturando a bacia em dois lugares. Na mesma época, Léa teve ainda uma dermatite no rosto, que provocou uma forte ardência nos olhos perdurando até semana passada. Recuperando-se, ela não deixa de celebrar a vida, mostrando-se sempre como uma mulher à frente do seu tempo, como você confere na entrevista a seguir.

Comemorações pelos 90 anos

“Eu teria várias homenagens. Não pude aceitar os convites do “Encontro” e do Faustão. Estou em recuperação com muita consciência, para ter resultado, porque preciso trabalhar. As fraturas já consolidaram (quando os fragmentos se mostram colados nos exames), mas as minhas pernas ainda estão com dificuldade de movimento. Estou na cadeira de rodas e fazendo fisioterapia. Fiz o pedido pelo SUS para ter acesso à reabilitação, acabei com meu plano de saúde há um ano, porque ele não era aceito em vários lugares”.

Só fazer o que quer

“Agora, só vou fazer o que for me satisfazer, e tenho compromissos anteriores (como a terceira temporada da série ‘Arcanjo renegado’, do Globoplay). Eu caí por excesso de trabalho. Falam que pareço ter 70 anos, mas tenho 90. A partir deste tombo, não quero mais acumular coisas só porque tenho que ganhar dinheiro. Isso me proporcionou uma reflexão. Estou limitada. Não quero fazer mais o papel de nega velha, de babá, nem de mãe preta, chorosa. Isso é passado! Mesmo sendo uma mulher negra, de idade, não tenho necessidade de fazer isso. No filme “ O pai da Rita” (dirigido por Joel Zito Araújo), por exemplo, faço uma mulher da velha guarda da Vai Vai, que mantém consigo a bandeira da escola. É outra coisa, uma realidade da nossa vivência. Quando digo que o negro também tem que ter essa inclusão enquanto realizador, é porque os autores têm que ser negros, para passarem a nossa visão sobre as coisas”.

Negros nas novelas atualmente

“A maior quantidade de negros nas novelas está acontecendo e é uma conquista das instituições e de todos que nos representam. Graças a Deus e às cotas, temos tantos jovens formados em direção e em vários cargos do audiovisual, não só como atores. Nunca foi feita uma novela de época com a visão do negro para seus colonizadores, por exemplo. Mostrar que os negros pensavam, usavam artifícios para utilizar sua religião através do sincretismo. Sem falar das revolta e dos quilombos. Isso naquela época era visto como bandidagem, e não como atos de pessoas heroicas. Quando meus olhos melhorarem, quero ver os trabalhos das minhas amigas Elisa Lucinda, Sheron Menezzes e Dandara Mariana na TV”.

Ancestral

“Quando fui avó, senti uma coisa de continuidade de vida muito presente. Com o bisneto, foi legal, nunca pensei que pudesse ser bisavó (risos). Agora, penso que estou na idade de ser tataravó mesmo, sou uma ancestral dessa criança. E esse sentimento de ancestralidade é muito forte” (No último ano, Léa se tornou tataravó com a chegada da pequena Elen, de 11 meses).

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