Manera Fru Fru, Manera!

Escritora Cidinha da Silva (Foto: Elaine Campos)

Domingo, no horário da preguiça em bairros do lado de cá da ponte, tem sempre um vizinho que põe os vibratos do Fagner no volume máximo da vitrola. Quando estão envolvidos nas atividades de higiene semanal do veículo de quatro rodas, nem me fale

Por Cidinha da Silva Do Portal Fórum

Domingo, no horário da preguiça em bairros do lado de cá da ponte, tem sempre um vizinho que põe os vibratos do Fagner no volume máximo da vitrola. Quando estão envolvidos nas atividades de higiene semanal do veículo de quatro rodas, nem me fale.

O dia ensolarado, então, vestido de saudades vivas, ressuscita cartas mal vividas, camas repartidas. A gente tenta de toda maneira se guardar do sentimento ilhado, morto e amordaçado, mas o vizinho toca Fagner, o barítono popular mais popular dos anos 1970, e o sentimento volta a incomodar.

E a máquina do tempo te leva para as tardes de domingo da adolescência na casa das amigas mais velhas, no Parque São João, onde você conheceu Fagner e como ele não tocava no rádio ainda, era um pavão misterioso, recentemente chegado do Ceará aos ouvidos do seu Sudeste caipira, você o confundia com Ednardo que tocava na novela.

No bairro, agora, o vizinho repete a música duas, três vezes. Você conhece essa ladainha. A canção tem endereço certo, um coração que o feriu no passado, um coração que o fere no presente, um coração que o ferirá no futuro, porque o amor é sempre a crônica de uma morte anunciada (e sofrida).

Ou a canção é destinada ao próprio coração do saudosista, uma espécie de trilha sonora balsâmica para cicatrizar feridas antigas e persistentes. Porque essas dores, Fagner, afinal, sempre voltam a incomodar e acordam as canções eternas.

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