Mensagens nazistas são marcadas em parede de sala usada em atividades étnico-raciais na UFSC

As paredes de uma sala localizada no andar térreo do Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram marcadas com a suástica, símbolo do nazismo, e outras pichações relacionadas com o tema.

Por LEONARDO THOMÉ, do DC

Batizada pelos alunos de sala Quilombo, e utilizada principalmente por estudantes negros em atividades étnico-raciais e culturais, as inscrições foram motivo de denúncias na ouvidoria da universidade, que promete apurar o caso na tentativa de identificar e, caso os responsáveis sejam estudantes da UFSC, punir os autores das manifestações nazistas e racistas.

Alunos que costumam ocupar o espaço para aulas de hip-hop, capoeira e manifestações culturais diversas, relataram o crime de ódio nas redes sociais desde segunda-feira.

Em uma das mensagens, um aluno afirma que “na sexta-feira ao entrar para ter as aulas de hip-hop notamos que haviam sujado duas paredes com lama e as marcado com o símbolo nazista, arrancaram uma das tomadas aparentemente com um chute e arrancaram os cartazes de campanha contra o racismo”.

Na mensagem, o autor, que não foi localizado pela reportagem, lembra que as atividades realizadas na sala Quilombo são livres, e “toda e qualquer pessoa que quiser pode entrar e também participar das atividades”. O estudante ressalta que diversos alunos negros, bem como alunas, “frequentam a sala e enfrentam todos os percalços de ingressar e tentar permanecer em uma universidade pública em nosso país”.

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Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS

Antes de concluir a mensagem na rede social, o jovem de 26 anos expõe que tal situação não pode ser aceita e exige respostas da universidade. Afirma que o conteúdo deve ser tornado público para conhecimento não apenas da comunidade acadêmica, e informa que já foram tomadas medidas cabíveis para que o “crime seja apurado”.

“Pelo contexto sócio-histórico, entende-se que além dessas atitudes e marcarem esse local com este símbolo só pode significar Racismo e uma resistência fascista dentro da Universidade Federal de Santa Catarina”, conclui.

Prédio parcialmente desativado

O prédio onde há décadas funciona o Centro de Convivência da UFSC está parcialmente desativado. O segundo andar está interditado há cerca de um ano, devido a infiltrações e outros problemas estruturais. No andar térreo, além da sala Quilombo – cedida de forma provisória para os estudantes, que inclusive solicitaram por ofício a cessão do espaço de convivência para os estudantes negros -, funcionam o Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFSC e uma agência dos Correios.

À noite, o local é chaveado e rondas são feitas por equipes de vigilância da instituição. A reportagem esteve no espaço, conversou com um integrante do DCE, mas ele disse que nesta quarta-feira haverá uma reunião para tratar do assunto, e o diretório não se manifestaria antes do encontro.

UFSC tenta identificar responsáveis pelo ato

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Ações Afirmativas da UFSC, mas a responsável pelo setor preferiu não se manifestar antes de entender melhor o que aconteceu. Ela informou que tomou conhecimento do fato por alunos.

Já o chefe de gabinete da reitoria da UFSC, Áureo Moraes, explicou que a ouvidoria recebeu uma denúncia sobre o caso, vinda de uma estudante, e a questão foi encaminhada preliminarmente à Secretaria de Segurança Institucional da universidade, que é quem cuida do sistema de monitoramento por câmeras do Campus da Trindade.

— Só tem como a gente tomar algum tipo de atitude se houver identificação de autoria. Claro que obviamente a gente considera um abuso, um absurdo, enfim, toda e qualquer adjetivação que se possa fazer no sentido de descaracterizar a legitimidade desse ato. É um ato absolutamente condenável. Mas para a gente adotar algum tipo de medida de apuração ou responsabilização, temos que ter algum tipo de identificação. Então, a nossa ação está nesse sentido — observou Áureo.

O chefe de gabinete disse que a Secretaria de Segurança Institucional foi incumbida de tentar identificar, nos registros recentes das câmeras de videomonitoramento, se é possível ou não buscar uma mínima identificação de autoria.

— Em havendo, eu não tive essa resposta ainda, aí a gente adotará as medidas para identificar a autoria, tentar responsabilizar os autores, descobrir se são alunos ou não — revelou.

Leandro Oliveira, diretor da Secretaria de Segurança Institucional da UFSC, antigo Departamento de Segurança (Deseg), informou à reportagem que no entorno do Centro de Convivências não há câmeras de videomonitoramento.

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