Em audiência pública hoje (24) no bairro do Capão Redondo, na Zona Sul da capital paulista, moradores cobraram providências do poder público para as recorrentes chacinas e a atuação de grupos de extermínio na periferia da cidade. No dia 4, sete pessoas foram mortas em um crime no Capão Redondo.
Francisco José Carvalho Magalhães, pai do estudante Pedro Thiago de Souza Magalhães, executado no Campo Limpo – bairro vizinho do Capão Redondo – aos 20 anos por um grupo de extermínio em 14 de outubro de 2012, pediu apuração sobre o caso, ainda sem solução. “Ninguém sabe falar nada. Recolheram o corpo do local rapidamente e ninguém nunca me deu explicação. Cheguei na delegacia, o boletim de ocorrência já estava feito. Ele foi morto com armas exclusivas das Forças Armadas”, disse.
Magalhães diz que, em um domingo, seu filho, que cursava administração de empresas no Centro Universitário Anhanguera, em São Paulo, saiu de casa ao meio-dia para um fazer trabalho da faculdade. “Ele saiu de casa falando que ia pegar o pen drive. Quando deu três horas, me ligaram que ele tinha sido alvejado a bala”. Pedro foi morto com nove tiros, sete dados pelas costas. No boletim de ocorrência consta apenas que quatro pessoas desceram de um carro prata e dispararam contra o rapaz.
A Secretaria de Segurança Pública descartou que uma das vítimas da chacina seria o cinegrafista amador que fez imagens de uma ação policial no mesmo bairro, ocorrida em novembro do ano passado e que resultou na morte de um servente de pedreiro. As imagens mostram que um policial militar dispara contra um homem mesmo depois de ele estar rendido.
“O que aconteceu lá foi uma retaliação aos trabalhadores. Todo mundo sabe que dentro da polícia existe um grupo de extermínio, isso aí está na cara, não tem mais como esconder de ninguém. Aquela gravação foi para a mídia, vieram dar o troco”, disse Doraci Mariano, presidente da Associação Joacris, presente na audiência.
“Hoje, a polícia é motivo de medo. As crianças veem um carro e já correm. Na verdade, eles [os policiais] acham que da ponte [que dá acesso da Marginal Pinheiros ao bairro do Campo Limpo] para cá todo mundo é bandido. A abordagem é diferente. É com arma na cabeça, o cara pára você e fala: você pensa que está onde, no Jardins? [bairro nobre de São Paulo]”, acrescenta Mariano.
Convidados a participar da audiência, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sotilli, e o secretário municipal da Igualdade Racial, Netinho de Paula, estiveram presentes. “Viemos aqui para aprender com essa comunidade, valorizar o que ela tem a dizer, valorizar sua expressão política, social e cultural. Nós estamos nos abrindo para aprender”, disse Sotilli.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo disse que o secretário da pasta, Fernando Grella, iria se manifestar sobre as cobranças dos moradores em entrevista coletiva na noite de hoje.
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