MPF investiga empresa Uber após denúncia de intolerância religiosa na Baixada Fluminense

Motorista teria se recusado a levar duas mulheres e duas crianças porque elas estavam vestidas com roupas do candomblé. Situação foi flagrada em vídeo, e a Polícia Civil também investiga o caso.

FONTEDo G1
Taís Fraga (de branco) e a sogra estiveram na Decredi, acompanhadas do advogado (Foto: Rafael Nascimento/g1)

O Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação nesta quarta-feira (3) para apurar a responsabilidade da empresa Uber em uma situação de racismo religioso denunciada nesta semana. Um motorista de aplicativo se recusou a levar uma família para um terreiro de candomblé em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A família usava trajes religiosos, e a situação foi flagrada por uma câmera de segurança.

O MPF investiga também se houve violação do dever de prevenção pela empresa e pede que a Uber envie, no prazo de 10 dias, “informações sobre a situação e as medidas preventivas que adota” para impedir que usuários e motoristas pratiquem racismo religioso.

Os procuradores regionais dos Direitos do Cidadão no RJ, Jaime Mitropoulos, Julio Araujo e Aline Caixeta, destacam que há a necessidade de acompanhar e de fiscalizar os serviços de transporte em relação a “possíveis tratamentos discriminatórios dispensados aos usuários dos aplicativos de transporte.”

Relembre o caso

A comerciante Taís Fraga, duas filhas e a sogra chamaram uma corrida de aplicativo que tinha como destino o centro religioso que frequentam em Duque de Caxias, no dia 23 de abril.

Uma câmera de segurança flagrou o momento em que o carro se aproxima, o motorista fala com elas e se distancia — o que causa a revolta das passageiras.

De acordo com Taís, elas foram impedidas de entrar por causa dos trajes religiosos que usavam.

“Naquele dia, estávamos indo pra uma festividade a Ogum, São Jorge na Igreja Católica. Se ele me pedisse desculpas, eu aceitaria. Ele pode ter errado, como errou. Mas, eu aceitaria as desculpas. Ele falou que não levaria a gente e não levou. Ele viu a minha sogra, mas quando nos viu se negou.”

“Ele não falou sobre a religião. Mas, estava explícito. Isso só me fortaleceu mais ainda. Eu sempre fui em vários locais. Nunca aconteceu. Mas, isso me fortaleceu e vai fortalecer a gente mais ainda. Quem está passando por algum problema, venha aqui e denuncie”, disse.

O caso foi registrado na 59ª DP (Duque de Caxias) e transferido para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). A investigação está em andamento e a família pede justiça.

“Expus a minha família na televisão e espero que isso não seja em vão. A gente precisa sim, lutar pelos nossos direitos. Zero preconceito e intolerância. Peço que as pessoas tenham respeito. As minhas filhas estão bem abaladas e triste, assim como eu. Estou tentando, mas vamos conseguir”, diz Taís.

A Decradi pediu que a Uber envie os dados do motorista.

Em nota, a Uber informou que ” não tolera qualquer forma de discriminação. Em casos dessa natureza, a empresa encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei”.

Ainda de acordo com a empresa, “a conta do motorista parceiro já foi temporariamente desativada”, enquanto o caso é investigado.

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