Negros e pardos ocupam só 10% dos cargos de chefia, diz pesquisa

Cidadãos são a maioria da população economicamente ativa do país.
Nas universidades, ainda são metade do número de estudantes branco

Do G1

Uma pesquisa feita com mais de 500 empresas brasileiras mostra que, apesar de serem a maioria da população, os cidadãos brasileiros classificados pelo IBGE como pretos e pardos ocupam só 10% dos cargos de chefia.

“Eu estava procurando alguma vaga que tivesse a ver com criação, com criatividade”.

“Eu trabalho em propaganda há 18 anos. Quando olhei à minha volta, não vi um negro na minha frente, não vi nada”.

A agência de publicidade resolveu fazer uma seleção para contratar apenas estagiários negros. A primeira etapa foi da seguinte maneira: os recrutadores sabiam apenas o nome e a idade dos candidatos. Naquele momento, não importava formação nem onde eles moravam. Os selecionados passaram em algumas dinâmicas e só depois disso o currículo deles foi revelado.

“Quando você vai a uma entrevista ‘normal’, há estudantes com condições financeiras muito melhores que a sua. Não significa que eles são mais competentes. Eles só têm mais um currículo”, disse a estagiária Tamara Pinheiro.

Em 2005, o percentual de jovens pretos e pardos nas faculdades era de 5,5%. Com a política de cotas, mais que dobrou dez anos depois. Mas, ainda assim, é metade do número de universitários brancos.

“Se eu só procuro profissionais em duas faculdades, que são as faculdades chavões, por assim dizer, dentro da minha área, eu só vou obter sempre os mesmos profissionais, e por consequência vou ter só os mesmos olhares. O que a gente tem que fazer hoje é encontrar a meritocracia dentro da diversidade”, comentou Ricardo John, vice-presidente da agência John Water Thompson.

Os pretos e pardos são mais de 50% da população economicamente ativa do país, mas ocupam apenas 6% dos cargos de gerência e menos de 5% de diretores ou presidentes. É o que mostra uma pesquisa feita com mais de 500 empresas.

“Se a gente continuar no mesmo ritmo de práticas e políticas que está realizando hoje, essa desigualdade no mundo empresarial só vai ser reduzida daqui a 80 anos”, disse Sheila de Carvalho, Coordenadora de Direitos Humanos do Instituto Ethos.

Patrícia Santos fundou uma consultoria para combater a desigualdade racial nas empresas. E diz que, mais do que uma tendência, é uma necessidade econômica.

“Quanto mais profissionais negros você tiver no seu time, maior é a sua chance de vender mais, de ter uma maior participação no mercado e alcançar mais clientes”, afirmou Patricia, executiva de recursos humanos e fundadora da Empregueafro

Existe um grupo de diversidade preocupado com o crescimento dos funcionários negros.

“A gente procura falar abertamente com os negros sobre esse tema. De aproveitar que a empresa oferece oportunidade de desenvolvimento e agarrá-las, e acreditar que eles também podem chegar lá”, disse Adriana Ferreira, líder de diversidade e inclusão.

Com mais de duas décadas de profissão, Flávia Roberta Silva é gerente de projetos numa multinacional de tecnologia. E uma referência.

“Eu nunca me senti menor. Muitos negros ainda não enxergam as oportunidades. Até onde eu posso chegar? A ideia é fugir dos estereótipos e mostrar as possibilidades”, explicou ela.

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