Nem toda fama – Por Fernanda Pompeu

por fernanda pompeu

 

Noventa por cento de nós gostaríamos de ser ricos e famosos. Dinheiro sobrando providencia bem-estar, agiliza sonhos, permite mobilidade. Fama provoca reconhecimento, penteia a vaidade e abre portas. Até as emperradas.

Mas não vale ficar famosa por ter matado mãe e pai. Por ter atropelado meia dúzia depois de encher a cara. Por ser o maior corrupto entre os corruptos. Isso é má fama e dá cana.

Fama de qualidade é a que vem por merecimento ou ineditismo. O primeiro louco a escalar o Everest (perto de nove mil metros de altura). A primeira mulher a pilotar um avião. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos. A primeira presidenta do Brasil etc.

Do mesmo jeito que tem gente rica por osmose, explico, herdeiros que nunca empreenderam nada, há famosos sem sentido. Porque casou com o jogador da horaPorque é marido da apresentadora de tv.

Também viceja o tipo famoso egoísta. Exemplo, Steve Jobs. Não duvido de seu talento, inteligência, carisma. Mas é claro que ele não fez tudo sozinho (ninguém faz).

No entanto, quando Jobs falava do seu trajeto na Apple dava impressão de ser um timoneiro solitário guiando um grande barco. No meu círculo de convivência, conheço gente incapaz de dizer: “Nós fizemos, nós conseguimos.”

O superior hierárquico que assina o trabalho que outros fizeram. O político que furta para si um projeto de iniciativa popular. A estrela que narra em primeira pessoa brilhos de uma equipe inteira. O astro que na hora do aplauso omite a constelação de onde saiu.

Ninguém escala uma grande montanha sem ajuda. Ninguém ergue um império sozinho. A construção de Brasília não foi obra de um Kubitschek só. Nem é apenas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A cidade foi obra também dos candangos.

Depois que inventaram a roda (mais de seis mil anos atrás), tudo o que fazemos é uma continuação. Digamos, um aperfeiçoamento. Todas as realizações nascem de um conjunto de pessoas criando e se esforçando. O mundo poderia afamar com mais justiça.

Imagem: Régine Ferrandis.

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