O boi fez a festa na praça do povo.

Por: Arísia Barros

A Praça Multi Eventos fica no coração do bairro da Pajuçara, em Maceió e no sábado, 16 de abril, a praça transformou-se em uma arena de show bordada de gente feliz, enfeitada de tons e cores e do protagonismo entusiasmado das populações periféricas.

O público presente beirou em quase sete mil pessoas. Sete mil gentes que percebem a arte como extensão da vida, uma cultura plural, aquela que enche arquibancadas e explode criatividade.

Foi uma senhora festa repleta de significados e pessoas que não se furtam de produzir e vivenciar o exercício artístico de um jeito cuidadoso e artesanal, com linguagem própria. Uma linguagem especialíssima.

O Bumba Meu Boi é tido como uma das mais ricas representações do folclore brasileiro. Segundo os historiadores, essa manifestação popular surgiu através da união de elementos das culturas européia, africana e indígena.

A festa do Boi na Praça Multi Eventos, em Maceió, foi uma rica demonstração do bom e genuíno teatro encenado no meio da rua. Inúmeras performances abordaram temas que iam do conhecido universo do sertão nordestino passando pela glorificação a Rainha dos Baixinhos e desbocando na Feira do Rato, redesenhada pelo Boi Lacrau, da Ponta da Terra com direito a barracas, vendedores de eletrodomésticos, algodão doce, uma profusão criativa do olhar do povo para uma feira tradicional, como símbolo da resistência cultural, que desaparece para dar passagem a contemporaneidade da construção de uma linha de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

O povo dançou a feira e o trem-como alegoria na praça – chorou na hora da despedida.

A despedida de um passado, que por décadas, ajudou a tantos e muitos a reinventarem e compreenderem melhor o enredo de sua história pessoal.

O povo se fez protagonista na praça em homenagem ao boi.

E os bois foram chegando, invadindo a praça sob as luzes dos holofotes. Teve o Boi Vingador e o Boi Dragão, do bairro da Ponta da Terra, o Safary, Boi Bandido,Diamante Negro e o Cão de Raça, do centenário bairro do Jacintinho, o bairro do Poço trouxe o Boi Lacrau e o Paraná.

O Boi Rastafari desfilou transvestido de Virgulino Ferreira Lampião, em azul, vermelho e branco (as cores da bandeira de Alagoas) , ao ritmo do tambor e do fôlego cantador: Ê,ê,ê,ê cangaço!

A Festa do Bumba-Meu-Boi promovida pela Fundação de Ação Cultural de Maceió, sob o comando da competente equipe de Paula Sarmento, atual gestora da Fundação de Ação Cultural de Maceió e ainda sob os olhares atentos da Liga dos Bois de Carnaval de Maceió, mostrou a profundidade das muitas obras costuradas, de um jeito simples, pelo povo que subcidadão inventa sua auto- mobilidade, em salas apertadas pelo poder econômico, mas, infladas da fé na arte popular, aquela que se depreende das burocracias estatais e invade encantatória os espaços públicos, como uma imensa fotografia das possibilidades … Sim, o povo pode!

Uma arte escrita com histórias de sacrifício e amores extremados. Histórias de gentes que desocupam a casa para permitir que o boi tenha um teto e se apertam na cozinha desprovida de quase tudo, como a desrespeitar as estratégias de desmonte das mordaças da pobreza e da escassez de oportunidades.

Histórias da gente amante do bicho-estrela que traz para a praça o mobiliário da casa como cenário para o boi brilhar.

A Festa do Bumba-meu-boi realizada no sábado 16 de abril, quebrou a lógica da exclusividade do “tal boi de carnaval” e fez surgir uma nova realidade: a arte quando é boa cabe em qualquer lugar e em qualquer ocasião, até em uma sábado de abril.

Que o diga o povo que invadiu a praça para aplaudir o boi!

Ê,ê,ê,ê boi!

 

Fonte: CadaMinuto

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