“O corpo é a ferramenta visual da música”, diz a cantora sergipana Héloa

FONTEPor Gabriel Nunes, do Rolling Stone
Foto: Enaldo Valadares

A musicalidade de Héloa vem do berço. Filha de músico, a sergipana oriunda de Aracaju descobriu a vocação de cantora ainda na antessala da adolescência, aos 13 anos. Fortemente influenciada pelo pai, decidiu, com uma obstinação um tanto quanto precoce para a idade, que acompanharia os passos musicais dele. No entanto, atribuir a influência artística da cantora somente a figura paterna seria uma imprecisão mnemônica. Para ela, a mãe e a avó, figuras que gosta de caracterizar como “profundamente musicais”, também a incentivaram a trilhar as quase sempre sinuosas veredas da carreira de artista.

“Sempre fui muito incentivada a estudar as diversas vertentes das artes”, diz a intérprete, que já traz um EP e um disco cheio no currículo, em entrevista exclusiva ao Sobe o Som. “Comecei a estudar canto lírico quando tinha 13 anos por influência deles [os familiares], e foi aí que me descobri como cantora.”

Além do canto lírico, Héloa também procurou dar vazão ao comichão criativo através de outras expressões – como a dança, o balé e o teatro. Estudando simultaneamente as quatro linguagens artísticas, ela foi aos poucos percebendo que a música era aquela que mais fazia chamejar a inquietude solta dentro do peito.

“[A música] foi o que me arrebatou mais, mas sempre procuro trabalhar sobre o palco todas essas expressões concomitantemente”, declara, ressaltando ainda a importância de conciliar as quatro vertentes artísticas durante as performances dela. “O palco é o momento em que eu posso mostrar essa minha continuidade como artista. Meu trabalho musical depende muito do estético e visual. Sobre o palco, trabalho a ideia do corpo como ferramenta visual da música.”

Pensando na urgência de explorar o próprio corpo como instrumento visual da sua música, Héloa percebeu que radicar-se em São Paulo era uma necessidade inadiável. Depois da tímida primeira incursão musical com o EP Solta (2013) – um modesto trabalho de formação, que a cantora define através dos adjetivos “verborrágico e ansioso” –, a sergipana mudou-se para a capital paulista a convite do produtor Daniel Groove para conceber o debute cheio da carreira, Eu (2016). Embora tenha o mesmo título do primeiro e único livro do poeta Augusto dos Anjos, o LP de Héloa se distancia do pessimismo fatalista, por vezes escatológico, do escritor paraibano. Todavia, ambos se aproximam no que diz respeito à temática da eterna procura por uma identidade pessoal, uma imersão em si mesmo em busca do nosso “eu” orgânico.

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