Culturalmente o corpo feminino sempre foi trato como algo ou sagrado ou profano. Uma dualidade que persiste até hoje. O corpo feminino como espaço sagrado é visto como algo intocado, que não deve ser modificado nem maculado de forma alguma. Que deve sim, ser cuidado e mantido na forma padronizada que a sociedade espera. Visto nessa concepção arcaica é símbolo de pureza e santidade um espaço que não pertence de fato a mulher, e sendo assim, não deve servir a seus desejos, suas necessidades e suas vontades, mas sim atender os desejos e as vontades de outros.
por Rosemeire Cerqueira via Guest Post para o Portal Geledés
O corpo da mulher nessa percepção deixa de ser seu para ser público. Púbico no sentido de que, a sociedade se julga no direito de opinar sobre o que é certo ou errado, sobre o que a mulher pode ou não fazer com ele, sobre como usá-lo e como mostrá-lo. Na santidade imposta ao corpo feminino a mulher passa a ser uma refém condenada a viver encarcerada nesse espaço santificado por outros.
O corpo feminino se torna profano no momento em que a mulher decide tomar posse desse espaço que é seu, o seu corpo, tornando-o assim representante de suas vontades, seus desejos, suas necessidades. O profano significa expressar suas vontades e opiniões através de algo que não é seu, sim! Algo que não é seu, digo isso como provocação, já que o corpo feminino ainda hoje é visto por muitos como um objeto.
Profanar esse território sagrado significa usar a roupa que queremos, é fazer tatuagens em território santo, é decidir não ter filhos, é ter práticas sexuais consideradas não convencionais, é querer decidir o que fazer, como fazer e quando fazer com o nosso corpo. Por que mesmo estando em pleno século XXI, a sociedade ainda vê o corpo da mulher como um “espaço público” onde todos têm o direito de opinar menos a mulher, onde o corpo feminino ainda é trato como uma espécie de tabu.
Mesmo com a emancipação feminina e todas as discussões sobre o tema o imaginário das pessoas ainda está infectado com as crenças arcaicas que foram arraigadas no seio da sociedade durante séculos e lutar contra tais crenças e valores não é uma tarefa fácil, pois percebemos isso no dia-a-dia feminino onde a mulher tentar constantemente apossar-se do que é seu por direito, seu corpo, sofrendo assim constantes represarias mesmo que de forma discreta, disfarçada por discursos hipócritas. Em plena contemporaneidade o corpo feminino ainda é um espaço de repressão onde desejam nos manter refém de seus valores e crenças ultrapassadas. Mulheres, não podemos calar! O corpo é meu ou seu?