1) Eu estava viajando com um pequeno grupo da região de DC para comemorar o aniversário da abolição da escravidão. Esta também foi a minha primeira vez no Brasil. Ficamos alguns dias no Bahia Othon Hotel, em Salvador. Lembro-me de tentar me aproximar dos funcionários através de um “bom dia”. Silêncio. Aparentemente, eles foram instruídos a não interagir com os clientes, além de servir os hóspedes da maneira que fosse necessária. Certa tarde, nossa pequena “delegação” dirigiu-se às instalações em frente ao hotel para tomar alguns drinques antes do passeio pela cidade. Encontramos resistência até mesmo para entrar na instalação e disseram que era um clube privado. Nós prontamente respondemos indicando que não íamos a lugar nenhum até que fossemos servidos e imediatamente requisitamos uma mesa. Era como no filme (48 horas) quando Eddie Murphy entrou no bar. Poucos minutos depois, após uma grande discussão, fomos servidos. No dia seguinte, desci para o café da manhã e os mesmos membros negros da equipe que testemunharam silenciosamente tornaram-se relativamente tagarelas. Os trabalhadores iniciavam conversas e geralmente interagiam com sorrisos, boas-vindas e curiosidades. Quase não conseguia tomar o café da manhã por causa do fluxo constante de garçons e outras pessoas que visitavam minha mesa. Fiquei confuso até que fui informado de que havia circulado entre os funcionários do hotel o que havia acontecido no dia anterior.
2) Alguns anos depois, fui convidado a visitar o Rio de Janeiro para participar de uma conferência realizada na cidade. Quando eu disse ao organizador do congresso que realmente não tinha dinheiro para um hotel durante a minha estadia, ele me convidou para ficar no apartamento da mãe dele. A ideia de ficar em um bairro (Botafogo) era exatamente o que eu queria viver! Minha anfitriã logo se tornou minha mãe brasileira. Mais tarde, percebi que seu pequeno apartamento fazia parte de um prédio onde trabalhava como zeladora. Ela também lavava e passava roupas de outros residentes. Depois de sair uma noite, peguei um ônibus para voltar para a rua dela (Rua da Matriz). Desci do ônibus com alguns outros passageiros. Eu fui para um lado; eles foram para outro. Passei imediatamente por um posto de gasolina bem iluminado. Ao continuar a andar, percebi que estava caminhando nas sombras, pois a rua não era iluminada pelas ‘luzes de choque’ das cidades americanas. De trás de um arbusto na minha frente, uma pessoa emergiu. Então percebi a presença de uma segunda pessoa atrás de mim. Quando o homem na minha frente se aproximou, pude ver que ele estava de uniforme. O segundo homem também estava vestido de forma semelhante. Eu falava muito pouco português. À medida que se aproximavam, eles começaram a gesticular enquanto me perguntavam o que eu acreditava ser: “o que você está fazendo nesta rua?” Eles estavam perto o suficiente para perceber que eu estava confuso com a pergunta deles. Quando hesitei em responder, eles perguntaram: “Americano?” Eu balancei a cabeça, sim, e repeti o endereço do meu anfitrião. O policial (provavelmente o policial militar) disse: “ok”. Então ele gesticulou silenciosamente para a área atrás de mim onde eu havia descido do ônibus. Aparentemente, havia uma favela no alto das colinas íngremes para onde os outros passageiros caminhavam para voltar para casa. Apesar de estar ‘isento’ da negritude por um momento, era evidente que o Brasil tinha se tornado ainda mais familiar para mim.
A campanha “13 de Maio: Comemorar o quê?” é uma iniciativa de colaboração entre US Network for Democracy in Brazil, Geledés Instituto da Mulher Negra e Afro-Brazilian Alliance (ABA) e tem como objetivo reafirmar a data da abolição da escravatura no Brasil como Dia Nacional de Luta contra o Racismo, como demarcado pelo movimento negro, já que a Lei Áurea não garantiu o pleno acesso aos direitos e à igualdade para a população negra – a qual vem enfrentando profundas desigualdades desde então.