O ‘sim’ para o aborto e as imagens da comemoração das mulheres na Irlanda

Yes campaigners jubilate as they wait for the official result of the Irish abortion referendum, at Dublin Castle in Dublin on May 26, 2018. - The first official results declared in Ireland's historic referendum on its strict abortion laws, showed 60 percent in the Galway East constituency backed repealing the constitutional ban on terminations. (Photo by Paul FAITH / AFP) (Photo credit should read PAUL FAITH/AFP/Getty Images)

A garantia do acesso ao aborto foi aprovada por votação popular em um país com mais de 78% de católicos.

Por Andréa Martinelli, do  HuffPost Brasil

 

Em Dublin, mulheres seguram faixa com dizeres “votar pela escolha” e comemoram o resultado do referendo. . (Photo by Paul FAITH / AFP) (Photo credit should read PAUL FAITH/AFP/Getty Images)

O referendo aprovado neste sábado (26) foi o sexto já realizado na Irlanda sobre a legalização do aborto, mas o primeiro que visava perguntar aos votantes se eles desejavam derrubar ou não a o o poder da 8ª Emenda. E com 70% dos votos, o sim venceu e as mulheres irlandesas foram às ruas comemorar esta vitória que é considerada um marco, já que a Irlanda é um dos países mais conservadores da Europa.

A decisão pela mudança, tomada pelo voto popular, legaliza o procedimento e garante o acesso irrestrito ao aborto para as mulheres com até 12 semanas de gestação. Segundo a 8ª emenda, um texto de 1983, o “o direito à vida do feto” é reconhecido, igualando os direitos de uma mulher grávida aos de um feto ainda no ventre.

PAUL FAITH VIA GETTY IMAGES  (Photo by Paul FAITH / AFP) (Photo credit should read PAUL FAITH/AFP/Getty Images)

Anteriormente, a Lei só garantia o acesso ao aborto caso a mulher esteja com perigo de vida real e iminente, inclusive sob risco de suicídio. Atualmente, uma irlandesa que decida interromper uma gravidez indesejada dentro do país pode ser condenada a até 14 anos de prisão.

O referendo define a anulação desta emenda, legaliza o procedimento e se transforma em um marco na trajetória de um país que, só duas décadas atrás, era um dos mais conservadores da Europa em questões sociais.

Manifestantes à favor da legalização do aborto na Irlanda, comemoram resultado do referendo. (Photo by Paul FAITH / AFP) (Photo credit should read PAUL FAITH/AFP/Getty Images)

A informação é da pesquisa boca de urna do Irish Times/Ipsos MRBI. Os eleitores do país de forte tradição católica optaram por ampla margem — 69% contra 32% –, mudar a constituição para tornar o aborto legal. Na capital Dublin, a escolha pelo “sim” se mostra significativa, com 77% dos votos, segundo o jornal Irish Times.

Os resultados oficiais ainda devem ser divulgados neste sábado (26), mas o porta-voz da campanha pelo “não ao aborto legal”, já reconheceu sua derrota nesta manhã. “Não há nenhuma possibilidade que o texto [sobre a legalização do aborto] não seja adotado”, declarou em entrevista à TV irlandesa RTE.

O abraço de comemoração entre as manifestantes.  (Photo by Jeff J Mitchell/Getty Images)

Mesmo sem o resultado oficial, milhares de irlandesas foram às ruas comemorar a vitória do “sim”. Segundo o jornal britânico The Guardian, as mulheres irlandesas não terão acesso imediato ao direito ao aborto, com calendário de votação no Parlamento ainda pouco definido.

O jornal ainda afirma que, “a oitava emenda – artigo 40.3.3 da constituição irlandesa – que anteriormente proibia o aborto, será substituída por uma cláusula declarando: “A provisão pode ser feita por lei para a regulamentação da interrupção da gravidez” até o momento da elaboração de uma legislação específica.

O país europeu tem atualmente uma das proibições mais rígidas do mundo à interrupção da gravidez. Segundo a 8ª emenda, um texto de 1983, o “o direito à vida do feto” é reconhecido, igualando os direitos de uma mulher grávida aos de um feto ainda no ventre.

A Lei só garante o acesso ao aborto caso a mulher esteja com perigo de vida real e iminente, inclusive sob risco de suicídio. Atualmente, uma irlandesa que decida interromper uma gravidez indesejada dentro do país pode ser condenada a até 14 anos de prisão.

O referendo define a anulação desta emenda, legaliza o procedimento e se transforma em um marco na trajetória de um país que, só duas décadas atrás, era um dos mais conservadores da Europa em questões sociais.

Com a revogação, o Parlamento irlandês passa a poder legislar sobre o assunto e será obrigado a criar leis que garantam o acesso ao procedimento às mulheres. Caso isso ocorra, a nova legislação permitiria o direito aborto até 12 semanas, por decisão da mulher e com autorização médica.

Segundo a Reuters, mesmo na sexta-feira (25), durante o início da votação, analistas já anunciavam que um comparecimento alto, especialmente em áreas urbanas, provavelmente favoreceria a vitória do “sim”. “Não é o resultado oficial, mas parece bom”, disse a ministra da Cultura irlandesa, Josepha Madigan, coordenadora da campanha “Yes”.

Ainda segundo a Reuters, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, votou “sim” em sua seção eleitoral em Castleknock, um subúrbio de Dublin, depois da abertura das urnas às 7h (horário local) da sexta-feira (25) e classificou o referendo como uma chance que ocorre “uma vez por geração”.

Segundo o Irish Times, o governo irlandês está planejando elaborar uma medida provisória, prevendo o aborto mediante pedido até a 12ª semana de gestação, com um período de “descanso” de três dias antes que a medicação abortiva seja administrada à mulher.

O ministro da saúde, Simon Harris, disse neste sábado (26), que pedirá a aprovação do gabinete na próxima terça-feira (29) para transformar, se possível, o projeto de lei em um texto legislativo formal. O primeiro-ministro, Leo Varadkar, disse que planejava que a nova lei fosse aprovada até o final deste ano.

Na Irlanda, em 2013, o aborto foi permitido pela primeira vez no país, apenas quando os médicos considerassem que havia risco de suicídio ou quando a vida da mulher estivesse em perigo devido a complicações.

A lei foi criada após o caso de Savita Halappanavar, uma mulher indiana que morreu em 2012, depois de médicos irlandeses terem lhe negado um aborto. Savita havia ido ao hospital com muitas dores nas costas e com indícios de aborto espontâneo. Os médicos se negaram a fazer o procedimento, alegando que estavam em um país católico.

Em 2016, de acordo com o Departamento de Estatísticas de Saúde do Reino Unido, mais de 3 mil mulheres informaram endereços irlandeses quando buscaram serviços de aborto em clínicas da Inglaterra e do País de Gales.

Com o resultado do referendo, um país com mais de 78% da população católica parece ter se sensibilizado após o alto índice de mulheres que morreram por causa de gravidezes de alto risco.

Veja imagens das irlandesas protestando à favor de um direito e comemorando a decisão:

Women celebrate the result of yesterday’s referendum on liberalizing abortion law, in Dublin, Ireland, May 26, 2018. REUTERS/Clodagh Kilcoyne TPX IMAGES OF THE DAY

 

Women celebrate the result of yesterday’s referendum on liberalizing abortion law, in Dublin, Ireland, May 26, 2018. REUTERS/Clodagh Kilcoyne
Women celebrate the result of yesterday’s referendum on liberalizing abortion law, in Dublin, Ireland, May 26, 2018. REUTERS/Clodagh Kilcoyne
-+=
Sair da versão mobile