Obama pede que China liberte Prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo

Larry Downing / AFP via Getty Images

Para líder americano, reforma política chinesa não seguiu passos da econômica; dalai-lama apela por outros presos de consciência

O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu que a China liberte rapidamente o dissidente chinês Liu Xiaobo, que nesta sexta-feira foi anunciado como ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Preso desde 2009 para cumprir uma sentença de 11 anos, Liu não sabe que recebeu a premiação.

Em uma declaração, Obama disse que Liu “sacrificou sua liberdade por suas crenças” e é “um eloquente e corajoso porta-voz para o avanço dos valores universais por meio pacíficos”.

premiação enfureceu a China, que condenou Liu sob a acusação de subversão contra o Estado depois que ele coautorou a “Carta 08”, no qual um grupo de intelectuais chineses reivindicava o sufrágio universal e uma democracia multipartidária no país. Para oficializar seu descontentamento, o Ministério de Relações Exteriores da China convocou o embaixador da Noruega em Pequim.

Segundo o advogado Teng Biao, pelo menos 20 dissidentes chineses que tinham se reunido em diferentes partes de Pequim para comemorar a concessão do Nobel a Liu foram detidos.

Obama disse que China alcançou um dramático progresso na reforma econômica, mas “esse prêmio nos lembra que a reforma política não seguiu o mesmo passo”.

Além de Obama, o líder espiritual tibetano, o dalai-lama, pediu à China que liberte Liu e outros “prisioneiros de consciência”, condenados por exercer “liberdade de expressão”. O mesmo pedido foi feito pela organização Anistia Internacional.

“Conceder-lhe o prêmio da paz representa o reconhecimento da comunidade internacional das crescentes vozes no povo chinês que querem empurrar a China para reformas políticas, legais e constitucionais”, disse o líder tibetano, que ganhou o Nobel da Paz em 1989.

Os pedidos de libertação foram feitos depois de a poetisa Liu Xiu, esposa do dissidente, ter conclamado a comunidade internacional a aproveitar a oportunidade para pressionar pela libertação de seu marido.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou que a entrega do prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês “é um reconhecimento do consenso internacional crescente” por um respeito maior dos Direitos Humanos.

ONGs de direitos humanos

A organização Human Rights Foundation (HRF) reagiu à concessão do prêmio a Liu afirmando que foi uma homenagem aos direitos humanos. Já a organização humanitária Anistia Internacional (AI) expressou sua confiança em que o Prêmio Nobel da Paz outorgado ao dissidente sirva para mostrar “a violação dos direitos humanos na China”.

“O prêmio não podia ser mais merecido. O compromisso de Liu com os direitos humanos é extraordinário e simboliza a luta contra a tirania chinesa”, declarou o presidente da HRF, Thor Halvorssen, em Nova York.

“É preciso parabenizar o comitê por chamar a atenção para a intolerável crueldade de um regime que violou os direitos humanos e destroçou a paz de maneiras indescritíveis por mais de meio século”, acrescentou Halvorssen.

O presidente destacou ainda que nos últimos anos o prêmio foi concedido a ambientalistas, ativistas políticos e funcionários públicos e “já era hora de parar nas mãos de um defensor dos direitos humanos”.

Para a agência AsiaNews, do Vaticano, a concessão do prêmio a Liu é um apoio a todos os signatários da Carta 08. “Respeitar os direitos humanos e a liberdade religiosa é o único modo de salvar a China da catástrofe que já pode ser observada hoje. É uma advertência a Pequim, mas também ao Ocidente, que vê o gigante chinês só como um meio para resolver seus próprios problemas”, afirmou o religioso Bernardo Cervellera, diretor da AsiaNews.

O diretor acrescentou também a “surpreende a coragem” do comitê do Nobel da Paz para indicar Liucomo o agraciado, “em um momento no qual toda a comunidade internacional se prostra perante a China rica, superpoderosa, o maior mercado do mundo”.

Xiaobo participou dos protestos de estudantes da Praça da Paz Celestial de 1989 e foi indicado ao Nobel pelo político checo Václav Havel.

A HRF lembrou também que Liu, ao ser sentenciado, declarou: “Todos sabem que quando um intelectual independente se levanta contra um Estado autocrático, seu primeiro passo em direção à liberdade é também o primeiro rumo a uma prisão (…) Agora dei esse passo e a verdadeira liberdade está mais próxima”.

Fonte: IG

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