Orféu: trágedia afro-brasileira com astros baianos

FONTEPor Ana Cristina Pereira, do Correio
O musical “Orfeu”, em montagem de 2010, dirigida por Aderbal Freire Filho (Fotos: Divulgação/ Orfeu)

Foram duas semanas de suspense e apreensão. Depois de rigorosa peneira para chegar aos 18 atores na nova montagem do clássico teatral Orfeu, o diretor carioca Aderbal Freire-Filho testou os escolhidos em várias posições. “No teatro, a estrela não é o diretor, nem mesmo o autor. A estrela é o ator, a atriz”, setencia o diretor. E para viver o casal protagonista da peça escrita por Vinicius de Moraes (1913-1980) e musicada por Tom Jobim (1927-1994) em 1956, Aderbal escolheu os baianos Érico Brás, 31 anos, e Aline Nepomuceno, 25.

Érico será o sambista carioca Orfeu e Aline, a doce Eurídice na mega montagem, que estreia quinta-feira no Canecão, no Rio, e depois segue para cinco capitais. Desta vez, a trilha sonora tem no comando adupla Jaques Morelenbaume Jaime Alem. A escolha representa uma virada na vida da dupla.

“Está sendo muito bom trabalhar como Aderbal. Para mim, que venho do Bando Olodum, é a oportunidade de experimentar outros caminhos”, afirma Érico. “É uma grande responsabilidade, estou muito no foco. É a chance de mostrar meu trabalho, que não sou apenas um rostinho bonitinho da TV”, pontua Aline.

PRESENÇA BAIANA

Morando no Rio – ele em Laranjeiras e ela, no Vidigal – Brás e Aline voltam a se encontrar depois de fazer par romântico num episódio de A Grande Família. Também estiveram no elenco da primeira e segunda temporadas da minissérie Ó, Paí, Ó. Ele integrou, ainda, a versão cinematográfica da peça do Bando Olodum.

Para participar de Orfeu, Aline trancou o curso de licenciatura em teatro na Ufba e Brás estará fora da nova peça do Bando, que estreia em outubro. É primeira vez que ele se ausenta de um trabalho do grupo desde que entrou para a companhia, em 1999.

Em Orfeu, Aline e Brás vivem uma morde final trágico, cujo desfecho acontece em plena terça-feira de Carnaval. Inspirada num mito grego, a trama ganha, literalmente, cor local. Vinicius escreveu a história, batizada de Orfeu da Conceição, para um elenco inteiramente negro e a ambientou numa favela carioca.

Cantor e compositor de sambas, Orfeu vive a derramar seu charme pelos morros cariocas, arrebatando o coração da mulherada. Ele se apaixona por Eurídice, provocando a ira de Mira, sua ex-namorada, que planeja a morte da rival. Vale ressaltar que a vingativa Mira é vivida também pela baiana Jéssica Barbosa, que participou no filme Besouro.

O time de baianos se completa coma cantora e atriz Verônica Barbosa, que assim como Jéssica mora no Rio, há bastante tempo. Para Brás, a experiência de trabalhar com música e dança no Bando Olodum foi fundamental para sua escolha. “Orfeu é um cara sedutor, encantador. Ele dá um acorde em seu violão e as mulheres se derretem. É uma peça que fala do amor, da paixão e do poder da música na vida das pessoas”, resume .

MENINA SAPECA

Com experiência teatral no Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA) e como cantora de um grupo rap, Aline define-se como uma atriz que pode cantar. Sua Eurídice, detalha, é uma menina meio sapeca, meio dengosa: “Ela não tem uma sensualidade muito explícita. Sua relação com Orfeu é leve, de muita pureza”.

Aline e Brás se conheceram rapidamente nas gravações de Ó, Paí, Ó. Mas agora, diz a moça, a relação dos dois é de muita empatia:“Basta agente se olhar e pronto”. A personagem dela morre logo no primeiro ato da peça. Mas volta em belas aparições, para cantar canções que se tornaram clássicos na MPB como Se Todos Fossem Iguais a Você e Modinha.

FUTURO

Tanto Érico Brás quanto Aline Nepomuceno estão inteiramente focados em Orfeu. Depois da temporada carioca, a montagem segue para as cidades de São Paulo, Brasília, Goiânia, Porto Alegre e Curitiba, com agenda até outubro. Por enquanto, não há data prevista para Salvador, mas os dois atores torcem para que o estado entre na rota.

“Estou muito ansioso para levá-la para Salvador”, diz Brás, que já está às voltas com outros projetos, sobre os quais, por enquanto, não pode falar. Já Aline diz que só vai pensar em outros trabalhos mais tarde. “Quero terminar a minha faculdade, pois acredito na arte como como um caminho para mudar o mundo”, pondera.

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(Foto: Reprodução/ Correio)

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