Paranaense Enedina Alves Marques marca a história como a primeira engenheira negra do Brasil

Filha de lavrador e empregada doméstica, engenheira civil se formou em 1945, na UFPR, em Curitiba. Dedicação aos estudos transformou vida da paranaense.

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Enedina Alves Marques foi a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil — Foto: Acervo/Arquivo Público Municipal Maria da Glória Foohs

Filha de um lavrador e uma empregada doméstica, Enedina Alves Marques foi a primeira engenheira negra do Brasil. Ela se formou em engenharia civil em 1945, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

Por toda representatividade aos movimentos negro e feminista, Enedina é tema do 65º episódio do PodParaná, publicado nesta sexta-feira (18).

Mesmo diante de diversos percalços no caminho, a paranaense não desistiu da educação. Na adolescência, se dividia entre o trabalho e os estudos. Aos 32 anos, se graduou.

Escritora de um livro infantil sobre Enedina, a professora pós-doutora em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismos, Lindamir Salete Casagrande, foi a convidada deste episódio.

A pesquisadora explicou que o contexto histórico em que a engenheira viveu torna o pioneirismo dela ainda mais relevante.

“A universidade não era pensada para mulheres e nem para pretos. Pense: foi uma mulher preta, pobre, filha de escravos libertos que sobreviveu em uma turma com homens brancos da elite. Foi uma batalha muito árdua e significativa.”

Na própria família, a engenheira foi inspiração. A sobrinha Lizete Marques, de 84 anos, disse que a tia Enedina serviu de exemplo.

A sobrinha insistiu na educação e se formou como professora de educação física, profissão que seguiu a vida toda.

“A vida dela não foi fácil. Ela lutou muito para se formar. Foi a única dos sete irmãos, todos homens. Ela era a única mulher. Eles todos trabalhavam e ela foi a única que estudou. Só que antigamente o estudo não era valorizado como é agora”, contou.

Durante sua trajetória, Enedina colaborou com diversas obras significativas no Paraná.

Uma delas foi a Usina Capivari-Cachoeira, que é a maior central hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil, e atualmente é chamada de Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina.

De acordo com a professora pós-doutora em filosofia contemporânea Maria Rita de Assis César, a biografia dela indica o quanto precisou ser firme para conquistar o espaço que era dela por direito.

“Imagine o que significa uma mulher negra tocar a obra da usina em um campo no meio do mato? Como dizem, é bem provável que ela carregasse um revólver na cintura, e que de vez enquanto ela desse uns tiros para o alto. Era uma necessidade muito grande de se fazer respeitar.”

Oportunidade

De acordo com Lindamir, a trajetória de Enedina foi possível por causa das oportunidades que ela teve ao longo do caminho e por saber aproveitá-las, com dedicação e inteligência.

“Nascida em Curitiba, fez toda formação em Curitiba, com muita luta e algumas oportunidades. A gente não pode esquecer disso, porque se não, vai cair naquela história da meritocracia: ‘Olha, se esforçando todo mundo consegue’. Não. Ela se esforçou muito, ela tinha capacidade, mas ela teve oportunidade.

Segundo a biografia da engenheira, durante a infância, Enedina ajudava a mãe com o serviço doméstico, na casa do militar Domingos Nascimento, em troca de estudos.

“A primeira oportunidade foi dada pelo patrão da mãe dela que matriculou ela em uma escola, porque se ele não tivesse feito isso, ela não teria como ter essa trajetória tão bacana e tão importante para a sociedade.”

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